Das
grandes lições históricas de nuestra América
uma é absolutamente fundamental. Nenhum modelo desenvolvimentista pode aguentar
por tanto tempo. Assim, depois de um primeiro mandato com muitas medidas de
cunho neoliberal, a conjuntura internacional favorável permitiu a Lula, a
partir de seu segundo mandato, sobretudo, implementar um modelo
neodesenvolvimentista.
Àquela
altura, as parcelas mais à esquerda já haviam rompido com o Partido dos
Trabalhadores. O PSOL, fundado lá pra 2004, após a insatisfação com os inícios
do governo Lula, ganha corpo em 2005, principalmente após o mensalão. Mas qual
era a divergência fundamental? Seria o rechaço ao modelo neoliberal, uma
insatisfação com o reformismo ou uma ruptura meramente ética? Como todo partido
de tendências, tem de tudo o que é resposta.
A
grande protagonista dessa ruptura foi nada mais nada menos do que Heloísa
Helena, e como não lembrar daqueles infindáveis enfrentamentos verbais com ACM?
A mulher que chorava ao ver Lula empossado presidente agora concorria pela
oposição.
De
qualquer maneira, de lá pra cá, Heloísa Helena se mostrou uma conservadora e
retrógrada em diversos pontos, mas este não é o centro deste texto.
O
PSOL então, ganha corpo no auge da crise político-midiática do Mensalão levando
no nome o Socialismo e a Liberdade.
2010:
Tinha uma pedra no meio do caminho?
Infelizmente,
em 2010, uma Frente de Esquerda com o PCB se viu comprometida pela demora do
partido que viveu uma intensa crise interna sobre apoiar ou não a candidatura
de Marina Silva, cujo vice era ninguém menos que o dono da Natura. O grupo que
pretendia apoiar sua candidatura era capitaneado por Heloísa Helena.
Durante
toda a campanha Marina Silva fez um discurso arroz com feijão que não permitia identificar
de que lado estava, enquanto – felizmente o PSOL saiu com a candidatura de
Plínio de Arruda Sampaio, mais à esquerda do que nunca antes, diga-se de
passagem.
É
verdade que Marina foi uma incansável defensora do meio ambiente ao longo de
toda sua vida. O problema é Marina esquivou-se de todos os temas polêmicos que demonstrariam
se estava comprometida com as forças progressistas ou com as forças
conservadoras. Tudo era jogado para o plebiscito. Nada era desenvolvido a
fundo. Que falar então de dívida pública, juros e outros temas que dizem
respeito aos privilégios do grande capital no país.
No
final das contas, a candidatura de Marina conseguiu angariar apoio de uma
classe média órfã, que deixou de votar no PT a partir do escândalo do mensalão
e tinha vergonha de votar no Serra ou no PSDB. Pois, no fim das contas, como
escutei de um amigo conservador, “no primeiro turno votar na Marina ou votar no
Serra dá na mesma” e, ao contrário do que se esperava, deu segundo turno. Uma
acachapante derrota para Serra.
Bonitinha,
mas ordinária.
Assim
vejo esse discurso da “nova política”. Vamos por partes.
1 - A
novíssima política pensa ser possível decidir as coisas por plebiscito.
Ok! Quanto
mais participação política melhor. Mas, há um pequeno detalhe. Como se faz a
discussão? A burguesia tem o mais absoluto controle da informação e da
comunicação no país. Como disse Emir Sader, o que fazemos na internet é
delírio. Esses grandes meios impõem sua agenda conservadora dia-a-dia, omitem
informações, com seus “especialistas”, cuja especialidade é defender seus
pontos de vista.
Nesses
termos, é impossível que as partes em disputa estejam em igualdade de
condições, já que é isso que os “liberais” pensam que o capitalismo
proporciona. A socialização dos meios de comunicação é um eixo fundamental,
para a batalha de ideias na sociedade.
2 – O combate
à corrupção
A bandeira
do combate à corrupção é tradicionalmente uma bandeira da direita, que vê aí a
desculpa para seu comportamento golpista. Foi assim com Getúlio em 1954, foi
assim com Jango em 1964. Evidentemente que não tem como ser a favor da
corrupção, mas ser contra a corrupção, seria como se declarar contra a gripe,
ou seja, não diz nada.
É preciso
definir o que é corrupção, e quem são os grupos que se beneficiam dessa
corrupção. As grandes empreiteiras, as multinacionais do agronegócio, os que
engordam com a dívida pública, burocratas do serviço público – o DETRAN que o
diga, enfim, é um debate.
Como
queremos combater a corrupção sem que as pessoas tenham acesso à informação,
sem combater a mentalidade da corrupção, sem refundar esse Estado, sem acabar
com o coronelismo?
Não basta
uma “nova política”.
Batuque
na cozinha, sinhá não quer
Segundo o sociólogo da USP, Ruy Braga em seu
último artigo (“desassossego na cozinha” http://boitempoeditorial.wordpress.com/2013/01/21/desassossego-na-cozinha/),
o que esperamos para os próximos anos é uma inquietação da nossa classe
trabalhadora precarizada. Espero que ele esteja certo. De qualquer modo, a hora
não é a de por o pé no freio. Há uma crise estrutural em curso, um modelo
neodesenvolvimentista que está prestes a bater no teto, uma situação de baixo
desemprego, enfim, há condições para que as mobilizações dos trabalhadores
comecem a crescer.
O
PSOL pode não ter um perfil revolucionário, mas possui grande potencial. Não
podemos deixar essa semente se perder. Não queremos que aconteça com o PSOL o
que aconteceu com o PT. Não precisamos que a história se repita como farsa e
que Heloísa Helena seja o Roberto Freire do PSOL. Mas, é isso que acontecerá se
o PSOL decidir apoiar Marina Silva, deixando de lado o “socialismo e liberdade”
que leva no nome.
4 comentários:
Pode ficar sossegado que o PSOL não vai apoiar a Marina Silva, não. A ala da Heloísa já baixou a crista nesse ponto... (pelo menos é o que está aparente...)
O partido novo da Marina é uma incógnita, mas bastante previsível; continuará na crítica branda, rasa... queremos preservar as florestas, mas não ousamos enfrentar a bancada ruralista e discutir reforma agrária.
Nessa semana perdemos um companheiro do MST pro latifúndio lá no Rio, e até agora não ouvi nenhum pronunciamento da Marina ou da Heloísa a respeito.
Falar de corrupção como se fosse meramente um defeito moral e não uma consequência do nosso sistema político tal como está não ajuda em nada, só contribui pra que o povo continue não acreditando na política institucional...
Gostei dos seus subtítulos hahaha
Esses dias fui informada de que o Pedro Bial citou essa frase do Marx ("a história se repete como farsa") numa eliminação do BBB...hahahahaah
Um abraço forte;
Carol
Sinceramente, voto Marina, pelo menos se o Randolff for o candidato. Votar no PT? No PSDB? ou Randolf? AFF! Entre os males o menor, Marina!
Entre os males o menor... desde 1989 nessa. Precisamos construir um programa realmente alternativo. A Marina não é um modelo alternativo nem ao PT, nem ao PSDB.
A Marina é a alternativa da burguesia para o caso de Aécio Neves não decolar. E a Heloísa Helena está de saída do PSOL. Logo, aliança PSOL-Marina não rola.
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