terça-feira, 29 de janeiro de 2013

PSOL e Marina vão sair no mesmo cordão no Carnaval de 2014?


               
            Das grandes lições históricas de nuestra América uma é absolutamente fundamental. Nenhum modelo desenvolvimentista pode aguentar por tanto tempo. Assim, depois de um primeiro mandato com muitas medidas de cunho neoliberal, a conjuntura internacional favorável permitiu a Lula, a partir de seu segundo mandato, sobretudo, implementar um modelo neodesenvolvimentista.
            Àquela altura, as parcelas mais à esquerda já haviam rompido com o Partido dos Trabalhadores. O PSOL, fundado lá pra 2004, após a insatisfação com os inícios do governo Lula, ganha corpo em 2005, principalmente após o mensalão. Mas qual era a divergência fundamental? Seria o rechaço ao modelo neoliberal, uma insatisfação com o reformismo ou uma ruptura meramente ética? Como todo partido de tendências, tem de tudo o que é resposta.
            A grande protagonista dessa ruptura foi nada mais nada menos do que Heloísa Helena, e como não lembrar daqueles infindáveis enfrentamentos verbais com ACM? A mulher que chorava ao ver Lula empossado presidente agora concorria pela oposição.
            De qualquer maneira, de lá pra cá, Heloísa Helena se mostrou uma conservadora e retrógrada em diversos pontos, mas este não é o centro deste texto.
            O PSOL então, ganha corpo no auge da crise político-midiática do Mensalão levando no nome o Socialismo e a Liberdade.
2010: Tinha uma pedra no meio do caminho?
            Infelizmente, em 2010, uma Frente de Esquerda com o PCB se viu comprometida pela demora do partido que viveu uma intensa crise interna sobre apoiar ou não a candidatura de Marina Silva, cujo vice era ninguém menos que o dono da Natura. O grupo que pretendia apoiar sua candidatura era capitaneado por Heloísa Helena.
            Durante toda a campanha Marina Silva fez um discurso arroz com feijão que não permitia identificar de que lado estava, enquanto – felizmente o PSOL saiu com a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, mais à esquerda do que nunca antes, diga-se de passagem.
            É verdade que Marina foi uma incansável defensora do meio ambiente ao longo de toda sua vida. O problema é Marina esquivou-se de todos os temas polêmicos que demonstrariam se estava comprometida com as forças progressistas ou com as forças conservadoras. Tudo era jogado para o plebiscito. Nada era desenvolvido a fundo. Que falar então de dívida pública, juros e outros temas que dizem respeito aos privilégios do grande capital no país.
            No final das contas, a candidatura de Marina conseguiu angariar apoio de uma classe média órfã, que deixou de votar no PT a partir do escândalo do mensalão e tinha vergonha de votar no Serra ou no PSDB. Pois, no fim das contas, como escutei de um amigo conservador, “no primeiro turno votar na Marina ou votar no Serra dá na mesma” e, ao contrário do que se esperava, deu segundo turno. Uma acachapante derrota para Serra.
           
Bonitinha, mas ordinária.
            Assim vejo esse discurso da “nova política”. Vamos por partes.
1 - A novíssima política pensa ser possível decidir as coisas por plebiscito.
Ok! Quanto mais participação política melhor. Mas, há um pequeno detalhe. Como se faz a discussão? A burguesia tem o mais absoluto controle da informação e da comunicação no país. Como disse Emir Sader, o que fazemos na internet é delírio. Esses grandes meios impõem sua agenda conservadora dia-a-dia, omitem informações, com seus “especialistas”, cuja especialidade é defender seus pontos de vista.
Nesses termos, é impossível que as partes em disputa estejam em igualdade de condições, já que é isso que os “liberais” pensam que o capitalismo proporciona. A socialização dos meios de comunicação é um eixo fundamental, para a batalha de ideias na sociedade.
2 – O combate à corrupção
A bandeira do combate à corrupção é tradicionalmente uma bandeira da direita, que vê aí a desculpa para seu comportamento golpista. Foi assim com Getúlio em 1954, foi assim com Jango em 1964. Evidentemente que não tem como ser a favor da corrupção, mas ser contra a corrupção, seria como se declarar contra a gripe, ou seja, não diz nada.
É preciso definir o que é corrupção, e quem são os grupos que se beneficiam dessa corrupção. As grandes empreiteiras, as multinacionais do agronegócio, os que engordam com a dívida pública, burocratas do serviço público – o DETRAN que o diga, enfim, é um debate.
Como queremos combater a corrupção sem que as pessoas tenham acesso à informação, sem combater a mentalidade da corrupção, sem refundar esse Estado, sem acabar com o coronelismo?
Não basta uma “nova política”.
Batuque na cozinha, sinhá não quer
Segundo o sociólogo da USP, Ruy Braga em seu último artigo (“desassossego na cozinha” http://boitempoeditorial.wordpress.com/2013/01/21/desassossego-na-cozinha/), o que esperamos para os próximos anos é uma inquietação da nossa classe trabalhadora precarizada. Espero que ele esteja certo. De qualquer modo, a hora não é a de por o pé no freio. Há uma crise estrutural em curso, um modelo neodesenvolvimentista que está prestes a bater no teto, uma situação de baixo desemprego, enfim, há condições para que as mobilizações dos trabalhadores comecem a crescer.
            O PSOL pode não ter um perfil revolucionário, mas possui grande potencial. Não podemos deixar essa semente se perder. Não queremos que aconteça com o PSOL o que aconteceu com o PT. Não precisamos que a história se repita como farsa e que Heloísa Helena seja o Roberto Freire do PSOL. Mas, é isso que acontecerá se o PSOL decidir apoiar Marina Silva, deixando de lado o “socialismo e liberdade” que leva no nome.

4 comentários:

Ana Carolina disse...

Pode ficar sossegado que o PSOL não vai apoiar a Marina Silva, não. A ala da Heloísa já baixou a crista nesse ponto... (pelo menos é o que está aparente...)
O partido novo da Marina é uma incógnita, mas bastante previsível; continuará na crítica branda, rasa... queremos preservar as florestas, mas não ousamos enfrentar a bancada ruralista e discutir reforma agrária.
Nessa semana perdemos um companheiro do MST pro latifúndio lá no Rio, e até agora não ouvi nenhum pronunciamento da Marina ou da Heloísa a respeito.
Falar de corrupção como se fosse meramente um defeito moral e não uma consequência do nosso sistema político tal como está não ajuda em nada, só contribui pra que o povo continue não acreditando na política institucional...
Gostei dos seus subtítulos hahaha
Esses dias fui informada de que o Pedro Bial citou essa frase do Marx ("a história se repete como farsa") numa eliminação do BBB...hahahahaah

Um abraço forte;
Carol

Anônimo disse...

Sinceramente, voto Marina, pelo menos se o Randolff for o candidato. Votar no PT? No PSDB? ou Randolf? AFF! Entre os males o menor, Marina!

Fran disse...

Entre os males o menor... desde 1989 nessa. Precisamos construir um programa realmente alternativo. A Marina não é um modelo alternativo nem ao PT, nem ao PSDB.

Claudinei Braz disse...

A Marina é a alternativa da burguesia para o caso de Aécio Neves não decolar. E a Heloísa Helena está de saída do PSOL. Logo, aliança PSOL-Marina não rola.