quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um cenário inquietante...



            E já que era do cenário político atual que eu vinha falando no meu último post, nada melhor do que seguir a linha e falar dos últimos acontecimentos da política brasileira, que em meio a invasão do Mali, do desespero da imprensa na tentativa de derrubar Chávez, acabaram ficando um pouco de lado. Entretanto, acho que alguns outros acontecimentos recentes são também merecedores de atenção, pois acho que prometem dar uma movimentada no marasmo que vinham sendo as eleições de 2006 pra cá.
            A criação de três novos partidos em marcha o Partido Solidariedade, que tem como principal articulador a encarnação do que se conhece como “pelego”, o sindicalista Paulinho da Força, atualmente no PDT, que em São Paulo vive a reboque da política neoliberal dos tucanos (http://migre.me/cPCDh - matéria do Estadão) e a fundação do “movimento” Movimento Social Nova Política pela ex-ministra Marina Silva (http://migre.me/cPCGK - matéria do Estadão), além do enigmático PEN, Partido Ecológico Nacional.

A velha “nova” forma de se fazer política
            Marina Silva começou ao lado de Chico Mendes, como uma militante ecologista e de esquerda, foi, seguramente a melhor ministra do meio ambiente que tivemos até hoje.
            Entretanto, quando a via em campanha em 2010 não conseguia entender qual sua “profunda divergência” com o projeto lulista, que a levou a romper com o PT, muito menos com o neoliberal de Serra. Em suma, Marina estava à esquerda e à direita de Serra e Dilma, assim como estava acima e abaixo dos dois. Vazio, como seu discurso. Seu projeto eco-capitalista agregou muita gente que pensou ser ela uma opção de esquerda, quando na verdade sua base era de tucanos envergonhados, que viram nela alguém que poderia ameaçar a eleição de Dilma num eventual segundo turno. Não foi, portanto, uma "onda verde".
            De forma muito oportunista, Marina aderiu ao discurso pós-moderno de fácil digestão    dos que “não estão nem à esquerda, nem à direita, mas à frente”, o que evidentemente é desonestidade intelectual, e penso não ser necessário me delongar sobre a existência da direita e da esquerda.
            É com esse intuito que ela procurou setores do PSOL, sobretudo a “socialista” mais conservadora que já se teve notícia, Heloísa Helena, do PT, do PDT, do PSDB e até do DEM. Um verdadeiro Frankstein partidário, o que para um país acostumado àquilo que Gramsci chamava de “pequena política”, em termos do povão a politicagem, não é tão estranho.
            E continuando com o discurso fofinho, a recusa da forma “partido”, aproveitada de forma oportunista na nomenclatura escolhida, assim como uma enigmática “Nova Política”, busca angariar os votos da classe média escandalizada com o suposto “grau de corrupção nunca antes visto nesse país, meu Deus”.
            Afinal, quem vem com o discurso Soninha, que é bem a cara do PPS, do “pode ser diferente”, mas busca os mesmos setores de sempre, quem se recusa a ver que a política se faz sob os movimentos da luta de classes, ora velada, ora aberta, como diziam Marx e Engels no Manifesto Comunista, só pode acabar na velha “nova forma” de se fazer política, que na prática se traveste com um discurso pseudo-progressista, para aplicar as mesmas políticas neoliberais, de direita, sem compromisso com os mais necessitados, mas mesmo assim, conquistando setores que poderiam estar com a esquerda.

Solidariedade entre o capital e o trabalho?
            O PDT paulista foi a “vanguarda” no abandono das bandeiras trabalhistas. Sob o comando de Paulinho da Força, mostrou-se como o peleguismo do século XXI, com um discurso populista, aliado às políticas neoliberais do PSDB no estado que são tão nocivas aos trabalhadores.
            As condições históricas em que se forma a socialdemocracia brasileira o levaram a seguir uma trilha completamente distinta da socialdemocracia clássica, pois já nasce sem inserção no meio sindical. Penso que é esse o sentido da articulação da fundação do Partido Solidariedade, que vem sendo articulado por Paulinho da Força, agradando ao PSDB, que percebeu que o DEM é um cadáver em estado de putrefação e o PPS é tão inexpressivo quanto o time do Bangu.
            Além de agradar o PSDB e seus caciques, também agrada ao mais novo PMDB da política nacional, o PSD de Kassab, tão ou mais fisiológico.
            Por que essa fundação seria importante? Ela seria capaz de dar uma base sindical para a direita, dificultando ainda mais as condições de luta para a classe trabalhadora em seu projeto histórico. E isso é uma questão a se pensar...

Uma legenda para o fundamentalismo religioso
Apoiado pelo fundamentalismo religioso e com um discurso de defesa do consumidor, que agradou ao subproletariado, assim como o discurso conservador agregou a classe média, Russomano é uma mostra do reascenso do conservadorismo à cena política.
            O PEN, Partido Ecológico Nacional, se constitui no sentido de ser um pólo agregador do fundamentalismo religioso, sobretudo o evangélico, que possui grande influência no Congresso Nacional, mas está disperso em vários partidos (PR, PRB etc).
Resta saber se estamos assistindo ao nascimento de uma legenda puramente eleitoreira, que será uma espécie de “partido parlamentar”, como o PMDB, e organizará o lobby evangélico, fundamentalista na Câmara e no Senado, ou se estarão começando a construção de um projeto para o qual ainda não têm força, eleger um candidato próprio para um cargo majoritário. (Recomendo a leitura http://www.jornalpequeno.com.br/2012/9/15/padres-bispos-e-pastores-ainda-influenciam-no-voto-diz-sociologo-219406.htm).
Considero, porém, que há algo mais perigoso em tudo isso. Concordo com a análise do filósofo Vladimir Safatle. Aqueles conservadores que apoiaram Lula em 2002 ganharam vida própria, autonomia. E agora, aquele discurso “temos que votar no PT, porque senão os direitos sociais serão ameaçados”, começa a ficar um pouco mais difícil, pois essa direita incorporou a seu programa a agenda de erradicação da pobreza, e aqui lembrando André Singer, podendo incorporar ao seu projeto político o fator subproletariado, que é um peso quase que decisivo para definir os rumos da política no país.

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