quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Gramsci, um comunista do nosso tempo




Gramsci, bem mais do que um grande líder

            No dia 22/01/1891, nascia um grande comunista Antonio Gramsci. Não pretendo aqui fazer um resumão, ou então me debruçar sobre a vida dele, afinal de contas, não tenho capacidade nem para um, nem para outro, tive pouco contato com a obra deste grande dirigente e pensador, e para os interessados sobra Carlos Nelson Coutinho, Nicos Poulantzas e Néstor Kohan para quem quiser estudos mais aprofundados do pensamento de Gramsci, bem como seu desenvolvimento.
            O primeiro contato que tive com Gramsci foi com a desculpa de estudar “O príncipe”, de Maquiavel, para uma prova de ciência política, um texto chamado “A ciência e o príncipe moderno”, e é realmente impressionante como Gramsci consegue pensar o movimento operário, a revolução, a partir de um clássico tão distante do mundo urbano do capitalismo do século XX, que Gramsci conheceu, se há algo do qual ele não era adepto era do dogmatismo. A intenção do Tribunal fascista de impedir que “este cérebro funcionasse por 20 anos” fracassou, felizmente, nem as seguidas doenças na prisão, nem a perda de quase todos os dentes o impediram de estudar e desenvolver a teoria.
            Mais impressionante ainda é como, estando ele na prisão, durante o regime fascista de Mussolini, Gramsci foi capaz de elaborar diversos temas, com uma erudição de deixar muito acadêmico de boca aberta. De fato, Gramsci merece o protagonismo que lhe é dado nas análises marxistas, mas, sobretudo, na ação, pois Gramsci foi um homem de ação, a quem a filosofia da práxis não era apenas uma linha num pedaço de papel.
Quando os Cadernos do cárcere apareceram pela primeira vez foram editados por aquele que era tido como mais estalinista do que o próprio Stalin, Palmiro Togliatti, um dos idealizadores do eurocomunismo.
O papel que o estalinismo quis lhe dar era apenas o de um herói que resistiu bravamente aos suplícios do cárcere, o que não é mentira, mas deixando sempre de ressaltar a sua qualidade teórica e sua simpatia por Trotsy. Em 1926, pouco antes de ser preso, Gramsci redige uma carta alertando sobre as consequências terríveis que as lutas “fratricidas” no interior do PCUS teriam sob o movimento comunista internacional. Togliatti, porém, mostra a carta apenas a Bukhárin e não a seus reais destinatários.
            Infelizmente, Gramsci é tido por muitos como um reformista, no pior sentido da palavra, esquecendo-se de que categorias que ele desenvolveu brilhantemente como a “revolução-passiva” e a “hegemonia”, são conceitos que já estavam presentes em Lênin. Lamentavelmente, suas ideias, sobretudo a de “hegemonia”, foi utilizada como uma desculpa para uma inflexão ao reformismo, ao qual muitos aderiram como alternativa ao fracasso que se constatava ter sido o estalinismo e o burocratismo do Leste Europeu.
Gramsci em verde-e-amarelo
            Carlos Nelson Coutinho falava de forma muito acertada que o Brasil era o lugar por excelência da revolução-passiva, principalmente a célebre frase pronunciada por um dos generais que comandaram a Revolução de 1930, “fazer a revolução antes que o povo a faça”, Néstor Kohan reconhece que não só o Brasil teve essa particularidade, mas também toda América Latina. (Vale dar uma xeretada www.gramsci.org/) .
            Além disso, também temos a nossa “questão meridional”, os partidos à direita sempre tiveram maior votação na região Sul, bem como, historicamente, uma trágica ampliação geográfica, uma questão “setentrional”, como mostra André Singer, em que o subproletariado se alinha ideologicamente com o coronelismo, tendo um caráter conservador. Sem falar no aggiornamento de um certo partido que foi um dia dos trabalhadores.
            O fato é que suas categorias, seu pensamento são fundamentais nas análises políticas de quem pensa a história a partir da luta de classes. A atualidade de Gramsci é assustadora.
            Deixo aqui mais uma das preocupações de Gramsci, a revolução “fora do script”, nos países “atrasados”. Um texto escrito quando seu autor possuía apenas 20 anos: “A revolução contra o capital”, em http://www.marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm (o texto está em galego, mas dá pra entender).

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