Gramsci,
bem mais do que um grande líder
No
dia 22/01/1891, nascia um grande comunista Antonio Gramsci. Não pretendo aqui
fazer um resumão, ou então me debruçar sobre a vida dele, afinal de contas, não
tenho capacidade nem para um, nem para outro, tive pouco contato com a obra deste
grande dirigente e pensador, e para os interessados sobra Carlos Nelson
Coutinho, Nicos Poulantzas e Néstor Kohan para quem quiser estudos mais aprofundados
do pensamento de Gramsci, bem como seu desenvolvimento.
O
primeiro contato que tive com Gramsci foi com a desculpa de estudar “O príncipe”,
de Maquiavel, para uma prova de ciência política, um texto chamado “A ciência e
o príncipe moderno”, e é realmente impressionante como Gramsci consegue pensar
o movimento operário, a revolução, a partir de um clássico tão distante do
mundo urbano do capitalismo do século XX, que Gramsci conheceu, se há algo do
qual ele não era adepto era do dogmatismo. A intenção do Tribunal fascista de
impedir que “este cérebro funcionasse por 20 anos” fracassou, felizmente, nem
as seguidas doenças na prisão, nem a perda de quase todos os dentes o impediram
de estudar e desenvolver a teoria.
Mais
impressionante ainda é como, estando ele na prisão, durante o regime fascista
de Mussolini, Gramsci foi capaz de elaborar diversos temas, com uma erudição de
deixar muito acadêmico de boca aberta. De fato, Gramsci merece o protagonismo
que lhe é dado nas análises marxistas, mas, sobretudo, na ação, pois Gramsci
foi um homem de ação, a quem a filosofia da práxis não era apenas uma linha num
pedaço de papel.
Quando os
Cadernos do cárcere apareceram pela primeira vez foram editados por aquele que
era tido como mais estalinista do que o próprio Stalin, Palmiro Togliatti, um
dos idealizadores do eurocomunismo.
O papel que
o estalinismo quis lhe dar era apenas o de um herói que resistiu bravamente aos
suplícios do cárcere, o que não é mentira, mas deixando sempre de ressaltar a
sua qualidade teórica e sua simpatia por Trotsy. Em 1926, pouco antes de ser
preso, Gramsci redige uma carta alertando sobre as consequências terríveis que
as lutas “fratricidas” no interior do PCUS teriam sob o movimento comunista
internacional. Togliatti, porém, mostra a carta apenas a Bukhárin e não a seus
reais destinatários.
Infelizmente,
Gramsci é tido por muitos como um reformista, no pior sentido da palavra,
esquecendo-se de que categorias que ele desenvolveu brilhantemente como a
“revolução-passiva” e a “hegemonia”, são conceitos que já estavam presentes em
Lênin. Lamentavelmente, suas ideias, sobretudo a de “hegemonia”, foi utilizada
como uma desculpa para uma inflexão ao reformismo, ao qual muitos aderiram como
alternativa ao fracasso que se constatava ter sido o estalinismo e o
burocratismo do Leste Europeu.
Gramsci
em verde-e-amarelo
Carlos
Nelson Coutinho falava de forma muito acertada que o Brasil era o lugar por
excelência da revolução-passiva, principalmente a célebre frase pronunciada por
um dos generais que comandaram a Revolução de 1930, “fazer a revolução antes
que o povo a faça”, Néstor Kohan reconhece que não só o Brasil teve essa
particularidade, mas também toda América Latina. (Vale dar uma xeretada www.gramsci.org/) .
Além
disso, também temos a nossa “questão meridional”, os partidos à direita sempre
tiveram maior votação na região Sul, bem como, historicamente, uma trágica
ampliação geográfica, uma questão “setentrional”, como mostra André Singer, em
que o subproletariado se alinha ideologicamente com o coronelismo, tendo um
caráter conservador. Sem falar no aggiornamento
de um certo partido que foi um dia dos trabalhadores.
O
fato é que suas categorias, seu pensamento são fundamentais nas análises
políticas de quem pensa a história a partir da luta de classes. A atualidade de
Gramsci é assustadora.
Deixo
aqui mais uma das preocupações de Gramsci, a revolução “fora do script”, nos
países “atrasados”. Um texto escrito quando seu autor possuía apenas 20 anos:
“A revolução contra o capital”, em http://www.marxists.org/portugues/gramsci/1917/04/24.htm
(o texto está em galego, mas dá pra entender).
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