Ontem,
tomado pelo susto e pela emoção da notícia escrevi um artigo um pouco rápido
sobre Chávez. Agora penso que cabe botar um pouco mais de razão no assunto.
Como
disse o filósofo argentino, o marxista Atílio Borón, a história mostrará qual
foi o papel que Chávez cumpriu e não teremos dúvida de que o saldo será muito
positivo; sem dúvida poderá se falar numa Venezuela antes e depois de Chávez,
assim como uma América Latina antes e depois do comandante.
A
suposta “estabilidade democrática” na Venezuela foi garantida durante 40 e
tantos anos pelo Pacto de Punto Fijo, que significava constitucionalmente a
alternância no poder entre os democratas-cristãos da COPEI e a
“social-democracia” da Acción Democrática, às custas de perseguições, prisões
políticas, e ilegalidade para o Partido Comunista e o Movimiento de Izquierda
Revolucionaria.
Um
país com um solo fértil, mas dependente exclusivamente do petróleo, importando
gêneros alimentícios, alta concentração de renda e terra, uma economia
tipicamente latino-americana. Entretanto, o baixo investimento estrangeiro
sempre foi uma constante no país, pois o mercado interno era praticamente
insignificante.
Quase
como uma consequência do Caracazo –
um massivo protesto popular contra as medidas neoliberais implementadas pelo
governo de Carlos Andrés Perez em 1989, seguindo a cartilha do FMI, é que
acontece a tentativa de Golpe em 1992 por um movimento de oficiais de baixa e
média patente, liderado por Chávez, que alteraria sem dúvida o curso da
história. A simpatia que o povo venezuelano teve com essa figura foi o que
evitou que o comandante pegasse uma pena de 20 anos de prisão.
Eram
esses os desafios que a Revolução Bolivariana teria de enfrentar para construir
um novo país. Era preciso desenvolver o mercado interno e distribuir renda, talvez
desprezando o caráter da formação social venezuelana é que alguns setores
pretensamente de esquerda acusam Chávez de ser um nacionalista burguês, pouco
vale a mobilização das classes trabalhadoras nesse processo, é mais cômodo
pensar que a realidade está equivocada do que as teses que se defende nestas
seitas. Não se pode construir o socialismo a partir da miséria.
Mas Chávez
não se contentou com isso. Os altos investimentos em educação, o empenho para a
universalização do acesso à educação básica e superior, a democratização das
comunicações, que acabou com os monopólios e colocou os meios de comunicação
nas mãos dos movimentos sociais, a formação dos consejos comunales, os
referendos. Enfim, poderíamos fazer uma lista que não terminaria.
Mas
o papel de Chávez não se encerra nas fronteiras venezuelanas. Depois da ressaca
das lutas populares nos anos 1980 e da ofensiva neoliberal, o que Chávez
mostrou é que era possível um caminho que não rezasse a cartilha neoliberal, e
mais resgatou a atualidade do socialismo como uma urgente necessidade para
salvar a humanidade do trágico destino que nos reserva o capitalismo.
Chávez
resgatou as esperanças para o mundo pobre. Posso dizer que se hoje sou
comunista, muito devo a Chávez, que não era um comunista, mas que nos fez
despertar e perceber que a armadilha dessa globalização
que queriam nos fazer descer goela abaixo, só pode ser combatida com a
ruptura com o capitalismo. Chávez não viveu para ver essa ruptura, mas tenho
certeza de que plantou uma semente, que já germinou, deu alguns frutos e dará
muitos mais. Morales, Correa, Mujica são a expressão desse movimento, que com a
CELAC deu um gigante passo à frente.
A
liderança do processo venezuelano passa agora às mãos de um histórico militante
socialista, sindicalista, que conhece a realidade de seu país e que contará com
pelo menos dois partidos qualitativa e quantitativamente enormes (o PCV e o
PSUV), uma classe trabalhadora firme ideologicamente e disposta politicamente.
Afinal, não é todo dia que se vê nas ruas milhões e milhões de pessoas com a
Constituição em alto jurando o cargo de presidente.
¡GLORIA AL BRAVO
PUEBLO QUE EL YUGO LANZÓ!
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