quarta-feira, 6 de março de 2013

Qual o papel histórico de Chávez?




            Ontem, tomado pelo susto e pela emoção da notícia escrevi um artigo um pouco rápido sobre Chávez. Agora penso que cabe botar um pouco mais de razão no assunto.
            Como disse o filósofo argentino, o marxista Atílio Borón, a história mostrará qual foi o papel que Chávez cumpriu e não teremos dúvida de que o saldo será muito positivo; sem dúvida poderá se falar numa Venezuela antes e depois de Chávez, assim como uma América Latina antes e depois do comandante.
            A suposta “estabilidade democrática” na Venezuela foi garantida durante 40 e tantos anos pelo Pacto de Punto Fijo, que significava constitucionalmente a alternância no poder entre os democratas-cristãos da COPEI e a “social-democracia” da Acción Democrática, às custas de perseguições, prisões políticas, e ilegalidade para o Partido Comunista e o Movimiento de Izquierda Revolucionaria.
            Um país com um solo fértil, mas dependente exclusivamente do petróleo, importando gêneros alimentícios, alta concentração de renda e terra, uma economia tipicamente latino-americana. Entretanto, o baixo investimento estrangeiro sempre foi uma constante no país, pois o mercado interno era praticamente insignificante.
            Quase como uma consequência do Caracazo – um massivo protesto popular contra as medidas neoliberais implementadas pelo governo de Carlos Andrés Perez em 1989, seguindo a cartilha do FMI, é que acontece a tentativa de Golpe em 1992 por um movimento de oficiais de baixa e média patente, liderado por Chávez, que alteraria sem dúvida o curso da história. A simpatia que o povo venezuelano teve com essa figura foi o que evitou que o comandante pegasse uma pena de 20 anos de prisão.
            Eram esses os desafios que a Revolução Bolivariana teria de enfrentar para construir um novo país. Era preciso desenvolver o mercado interno e distribuir renda, talvez desprezando o caráter da formação social venezuelana é que alguns setores pretensamente de esquerda acusam Chávez de ser um nacionalista burguês, pouco vale a mobilização das classes trabalhadoras nesse processo, é mais cômodo pensar que a realidade está equivocada do que as teses que se defende nestas seitas. Não se pode construir o socialismo a partir da miséria.
Mas Chávez não se contentou com isso. Os altos investimentos em educação, o empenho para a universalização do acesso à educação básica e superior, a democratização das comunicações, que acabou com os monopólios e colocou os meios de comunicação nas mãos dos movimentos sociais, a formação dos consejos comunales, os referendos. Enfim, poderíamos fazer uma lista que não terminaria.
            Mas o papel de Chávez não se encerra nas fronteiras venezuelanas. Depois da ressaca das lutas populares nos anos 1980 e da ofensiva neoliberal, o que Chávez mostrou é que era possível um caminho que não rezasse a cartilha neoliberal, e mais resgatou a atualidade do socialismo como uma urgente necessidade para salvar a humanidade do trágico destino que nos reserva o capitalismo.
            Chávez resgatou as esperanças para o mundo pobre. Posso dizer que se hoje sou comunista, muito devo a Chávez, que não era um comunista, mas que nos fez despertar e perceber que a armadilha dessa globalização que queriam nos fazer descer goela abaixo, só pode ser combatida com a ruptura com o capitalismo. Chávez não viveu para ver essa ruptura, mas tenho certeza de que plantou uma semente, que já germinou, deu alguns frutos e dará muitos mais. Morales, Correa, Mujica são a expressão desse movimento, que com a CELAC deu um gigante passo à frente.
            A liderança do processo venezuelano passa agora às mãos de um histórico militante socialista, sindicalista, que conhece a realidade de seu país e que contará com pelo menos dois partidos qualitativa e quantitativamente enormes (o PCV e o PSUV), uma classe trabalhadora firme ideologicamente e disposta politicamente. Afinal, não é todo dia que se vê nas ruas milhões e milhões de pessoas com a Constituição em alto jurando o cargo de presidente.
¡GLORIA AL BRAVO PUEBLO QUE EL YUGO LANZÓ!

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