terça-feira, 5 de março de 2013

Morre aos 58 anos o presidente Hugo Chávez



            Simplesmente não posso acreditar. Num segundo, aquele homem forte, valente, de voz altiva, que encarnou o resgate da esperança do terceiro mundo veio a falecer. Depois de todas as falsas notícias que a grande imprensa veiculou, a voz embargada de Nicolás Maduro, que escutei tristemente congelado pela emoção, confirmou o que me haviam avisado.

            
           A América Latina está acostumada a líderes que sobem ao poder com um discurso populista para chegar ao governo e defender interesses da burguesia. Certamente não é esse o caso de Hugo Chávez. Depois de mais de 40 anos de alternância entre dois partidos Chávez chegou ao poder com um programa que visava apenas algumas reformas para democratizar a política venezuelana.
            Entretanto, o exemplo de Chávez é realmente distinto. A percepção de que não bastava apenas uma Constituinte, ou um capitalismo benéfico, mas que é necessário um projeto de sociedade, que vise romper a sociabilidade cruel do neoliberalismo. Chávez começou a falar em socialismo, a citar Marx, Lenin, Gramsci e até Kropotkin com propriedade nos meios de comunicação. Gosto muito dessa passagem do livro do trotskista Alan Woods “La revolución Bolivariana – un análisis marxista”:
“Na ausência de um partido marxista revolucionário de massas, as forças da revolução se reuniram ao redor de Chávez [...] Mas não só os inimigos burgueses da revolução mostram uma absoluta incapacidade de compreender a revolução venezuelana. Muitos de esquerda (inclusive alguns que se denominam marxistas) demonstraram uma incapacidade similar de entender o que está acontecendo [...] O que não entenderam é a relação dialética [...] entre Chávez e as massas. Eles têm em comum sua aproximação formalista e mecânica à revolução. Não a veem como um processo vivo, cheio de contradições e irregularidades. Não se ajusta a seus esquemas pré-concebidos de como deveria ser uma revolução e, portanto, lhe dão as costas com desprezo. Comportam-se como o primeiro europeu que viu uma girafa e exclamou: ‘Não acredito!’. Desgraçadamente, para nossos amigos formalistas, a revolução não se desenvolvem suavemente, não se produz de acordo com nenhum plano pré-concebido, não é como um ensaio de orquestra que segue a batuta do diretor.”
            Talvez algo alegres com a morte de Chávez, alguns já estejam contentes porque agora começa a “transição”. A única transição possível na Venezuela é a socialista. Chávez percebeu que se não fosse a mobilização popular, não seria possível realizar transformações estruturais e foram elas que armadas de consciência ideológica, colocaram o presidente de volta ao seu posto.
            O importante é que Chávez não se encerra na Venezuela. Seu exemplo e sua liderança são de uma vitalidade importantíssima para os países periféricos que foram arrasados pelo neoliberalismo. Morales, Correa, Mujica são frutos desse movimento que mostra que é possível um mundo fora do Consenso de Washington.
            O presidente Nicolás Maduro, histórico militante socialista, fez muito bem em expulsar o agregado aéreo estadunidense da Venezuela. O perigo de um golpe da direita significaria sem dúvida uma guerra civil, pois a grande maioria do povo venezuelano não está disposta a aceitar um retrocesso enorme, que significaria o fim dessa revolução política. As bases do PCV e do PSUV têm em conta que agem dentro do Estado burguês, mas que seu objetivo final é sua extinção.
            Onde existe massa organizada, consciente e uma direção à altura desse povo, não pode haver reversão no processo político. A semente plantada por Chávez, seja na organização popular ou na conscientização das massas, seja na organização de países que se recusaram a abaixar a cabeça para o imperialismo, germinará e dará muitos frutos ainda. Deixo aqui um texto que escrevi sobre a Venezuela e sua revolução bolivariana (“Uma revolução não pode depender de um líder” - http://caferevolucionario.blogspot.com.br/2012/12/uma-revolucao-nao-pode-depender-de-um.html).
            Como cantava o comunista Alí Primera: “Os que morrem pela vida não podem se chamar mortos”:

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