“Escrever a
história de um partido significa escrever a história geral de um país”. É com
essa maravilhosa frase de Gramsci, retirada dos Cadernos do Cárcere que o
historiador Lincoln Secco começa o livro “A história do PT”.
A
questão central do livro é entender como se deu o processo de transformação do
Partido dos Trabalhadores. Como um partido que abrigou esquerdas para todos os
feitios (esquerda católica, marxista, leninista, trotskista, eurocomunista etc)
acabou se tornando um partido socialdemocrata, predominantemente.
A
explicação do historiador, para felicidade geral daqueles que não gostam de
explicações simplistas, não se desgarra do contexto doméstico e internacional,
o que permite uma análise mais completa e com destino, valendo-me da frase de
Prestes: “não há vento favorável para quem não sabe a que porto se dirige” e
este não é, definitivamente, o caso de Lincoln Secco.
O
autor faz um corte bastante interessante sobre as fases do Partido. Partindo da
formação (1978 – 1983), passando pela oposição social (1984 – 1989), note-se
que aqui há o fortalecimento dos movimentos sociais, a criação do MST, as “diretas
já!” e o colapso do sistema soviético e a oposição parlamentar (1990 – 2002),
da ofensiva política e ideológica do neoliberalismo, do declínio da militância,
que marca uma nova dinâmica das ações internas no PT e, por fim, o Partido de
Governo (2003 – 2010), em que a polêmica “Carta aos brasileiros” é discutida,
bem como a crise do “mensalão” e a recuperação eleitoral do PT já nas eleições
de 2006.
Não
tratarei aqui da conclusão porque penso que o autor é bem claro na sua narrativa
em todos os momentos do livro.
Por
que ler “A história do PT”?
Lincoln
Secco conseguiu neste livro traçar uma narrativa trajetória de forma muito objetiva , com alto rigor científico, superando tanto as visões ressentidas, quanto as "exaltatórias" que não contribuem para a historiografia do Brasil e consequente compreensão da realidade. Fundamentou suas análises não em achismos,
mas em fatos, e, principalmente, diferentemente das análises que saíram por aí
nos últimos anos não credita o aggiornamento
do Partido a uma figura individual, ou ao oportunismo e nem reduz o PT ao
mensalão, como quer a direita e como as pessoas que preferem fatos de fácil
digestão preferem acreditar, mas a uma série de fatores internos e externos que influenciaram rotundamente as diretrizes do partido.
Em
tempos de julgamento do “mensalão” em que o que pretende o setor conservador do
país não é uma mera punição dos réus no processo, mas derrotar um projeto político e
mais, uma biografia política de um partido de esquerda que protagonizou muitas
lutas populares ao longo dos anos, é fundamental ler este livro para que se
ajude a compreender os motivos dessa guinada histórica e tirar lições dela para
o futuro, pois é nele que a esquerda pensa.
Um comentário:
Outro livro indicado para se compreender as mudanças no PT é o livro do Cyro Garcia, ''PT: de oposição à sustentação da ordem''.
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