Não
sou contra a punição de corruptos, mas sobre este caso, devo fazer algumas
considerações.
Foi
instaurado no Brasil um novo tipo de julgamento e foi atribuída ao STF mais uma
função.
O método dedutivo
A
melhor análise que vi sobre o assunto, até agora, foi a que fez o escritor
Wladimir Pomar (http://migre.me/barcz). Nela, o autor faz considerações muito
pertinentes, como a de que “O STF adotou o papel não só de julgador, de acordo
com a lei, mas também de legislador, modificando princípios legais, alguns
deles tidos como pétreos, com o objetivo claro e insofismável de condenar a
maioria dos réus”. O caso está sendo levado à corte internacional por um
conselheiro da OAB – GO. (http://dm.com.br/#!/texto?id=64691).
Acho
extremamente problemático o método dedutivo utilizado no julgamento, que foi
puramente dedutivo. Desde a época da
Ditadura não se tinha um julgamento político em que um réu político era
prejulgado e pré-condenado antes de se sentar no banco dos réus, sem a
presunção da inocência, que é base do nosso Código Penal. O Estado é quem deve
provar que o réu é culpado e não o contrário.
Para
o ministro Marco Aurélio Mello: “Tivesse Delúbio Soares a desenvoltura material
e intelectual atribuída a ele, certamente não seria apenas tesoureiro do
partido”. Talvez pareça cômodo pensar que ele está correto. Mas se tratando da
maneira de deliberar sobre a vida de um cidadão, por pior que este seja, isso
se torna extremamente preocupante.
O
argumento para condenação de Genoino é ainda pior “Genoino era o presidente do
partido que esteve envolvido nessa tramoia” e que, assim sendo, não teria como
ele não saber do esquema.
O
Estado democrático de Direito, com todas suas limitações que conhecemos bem, é
uma conquista. Se há quem prefira o Estado de Exceção e sua forma de atuar é
outro papo.
Também
penso ser extremamente perigoso basear-se apenas no que disse Roberto Jefferson
do PTB para realizar o julgamento dos dois. Some-se o fato de que ele é oposição
ao atual governo, inclusive Jefferson está apoiando a candidatura de Serra em
São Paulo, isto é, seria como pedir a um homem chifrado sua opinião sobre a sua
mulher e tomar isso como verdade absoluta. Indícios não são provas e não podem
ser tomados como tais.
A mídia
O
julgamento do ‘mensalão’, termo cunhado por Roberto Jefferson (PTB – RJ), foi
rapidamente transformado em uma “Avenida Brasil” versão toga pela grande mídia.
Rapidamente se escolheu o mocinho e o bandido. O mocinho seria idolatrado um
exemplo vivo, como o seu Zé, que achou 5 mil reais na rua e devolveu para o seu
dono e por isso deve ser colocado num pedestal e exaltado pela escola de samba
no próximo carnaval. Para quem pensa que estou exagerando, convido a ver com os
próprios olhos o que a Veja dizia de Joaquim Barbosa em 2009 e o que diz dele
agora: http://migre.me/bas95.
Como
disse Joaquim Barbosa, em se tratando de Mensalões a imprensa tem dois pesos e
duas medidas. Ninguém questiona porque o STF não julgou ainda o mensalão
tucano, que não existiu só em Minas Gerais, durante o governo Azeredo, uma vez
que a primeira vez durante o período democrático atual (1988 - ...) em que se
ouviu falar de compra de votos foi durante o Governo FHC, para a aprovação da
reeleição. O crime está prestes a prescrever e não será passível de julgamento.
Paulo César Peréio bem disse que se fosse o PSDB e não o PT, e se fosse o Banco
Itaú e não o Rural, o julgamento não teria chegado onde chegou.
A
grande mídia ignora também que um sócio de Marcos Valério ligou 37 vezes para o
comitê financeiro de Serra,
durante a campanha de 2002, o que é no mínimo estranho. (http://sphotos-e.ak.fbc).
Além
disso, o STF se deixou pautar pela mídia, conforme apontou o brilhante jurista
Dalmo Dallari, sendo que ambos se esqueceram de suas responsabilidades,
transformaram divergências entre ministros num verdadeiro fla-flu. O vazamento
de informações sobre o julgamento também atrapalhou e muito o processo (confira
a entrevista em http://migre.me/batnx). Dallari também criticou o fato de Barbosa
ter permitido que um jornalista acompanhasse a elaboração de seu voto, o que
sem dúvida pesa na hora de pensar em como agir.
Lições
para a esquerda
Acho
que o maior crime que cometeram Dirceu e Genoino foi ter conduzido a guinada à
direita que o partido deu, sobretudo após as eleições de 1998. Pela experiência
política dos dois, não sei se é possível que isto se desse pela ingenuidade de
ambos, acho que foi oportunismo.
Por fim...
No que tange
a indícios, Genoino foi condenado por ser presidente do PT na hora errada.
Mas o que há
de mais perigoso nessa história é que os ataques da direita não são ao PT, mas
ao projeto político histórico do PT e sua identificação como a maior força da
esquerda que o Brasil já teve. Como disse Leonardo Boff, eles batem no saco
pensando no gato que está dentro dele. (http://pagina13.org.br/2012/09/manter-viva-a-causa-do-pt-para-alem-do-mensalao/).
Tal ataque é
infundado porque o mensalão nada mais é do que a corroboração do abandono do
projeto democrático-popular que o partido adotara.
De qualquer
forma, o principal debate que deveria se desdobrar é sobre o financiamento
público de campanhas políticas, que é a única forma de conseguir apertar o
cerco contra a utilização de caixa 2 em campanha, uma prática comum a todos os
partidos que aceitam doação de pessoa jurídica.
Mas há algo
mais perigoso nisso tudo. As pessoas estão tecendo loas a um STF que deixou
livre Daniel Dantas, o assassino da irmã Dorothy e que tentou a duras penas
extraditar Cesare Battisti para a Itália. Que belo exemplo de tribunal
democrático, digno de puxa-saquismo mesmo.
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