Dia seguinte de eleições é sempre assim. A
gente abre um sorriso de orelha a orelha quando se lembra de certos resultados
e abaixa a cabeça com um grito que ficou entalado na garganta quando se lembra
de outros. Assim, comemoro os resultados em São Paulo (SP) e Macapá (AP), que
elegeram Haddad (PT) e Clécio (PSOL), mas lamento profundamente a derrota de
Márcio Pochmann (PT) em Campinas e Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém do Pará.
Por
motivos regionalescos vou me ater só ao Haddad.
Ao
contrário de alguns esquerdistas, no sentido leniniano do termo mesmo, que
preferiram acreditar que dava na mesma, sendo eleitos Serra ou Haddad. Em outro
texto passado já discorri sobre o assunto e não pretendo voltar a fazê-lo aqui.
As
grandes transformações sociais que se deram nas voltas e reviravoltas da História
sempre se deram a custa de muita luta, muita mobilização, ou seja, sempre
vieram de baixo. Aquilo que foi imposto de cima para baixo, das instituições
para o povo pode ter sido um paliativo, pode ter adiado grandes mobilizações.
Esquerda Radicalóide: Negação do valor da luta institucional
Mas, quando
se trata dos anseios da esquerda por justiça social, pelo socialismo, não se
pode esperar que ele venha por decreto, ou por PEC. Afinal, elegemos prefeitos,
vereadores ou comandantes da revolução na Câmara?
Aqui penso haver uma distorção fundamental
em alguns setores da esquerda radicalóide, e não radical, cujo desprezo pela
luta no terreno institucional, mesmo em momentos de refluxo das lutas populares
levam a um discurso anacrônico, cujos pés não estão sob a terra, mas sob uma
nuvem de fumaça que vai se esvaindo com o passar do tempo e os impede de
protagonizar qualquer conquista, negando aquilo que Gramsci chama de função
progressiva do Partido.
Seguindo
essa linha de raciocínio, por que deveríamos abrir mão de ter alguém no
Congresso para contrabalançar um Bolsonaro da vida? Porque deveríamos abrir mão
de ocupar espaços políticos que possam dar visibilidade a um partido de
esquerda, para que se possa acumular forças, enquanto a revolução não “vem”?
Afinal, enquanto ela não chega, os trabalhadores precisam comer, os gays
precisam de quem os defenda da homofobia, as mulheres precisam de quem lute
contra a violência que se abate sobre elas.
E daí?
Num contexto
como o nosso, derrotar Serra (PSDB), que se aliou nos últimos anos ao que tinha
de pior na direita (viúvas de 1964, TFP, Integralistas e afins), significa uma
derrota importante para o conservadorismo em geral. Não há dúvidas de que o
diálogo com os professores, com os servidores públicos em geral, com os
movimentos sociais e o olhar para a periferia serão bem diferentes, a partir da
próxima gestão.
Como disse
anteriormente, não tenho ilusões em relação à gestão de Haddad. Mas não será
pior do que todos esses anos da gestão Serra/Kassab, que SEQUER permite a
distribuição do “sopão” como caridade para os moradores de rua, que proibiu a
livre expressão dos artistas de rua, que proibiu até mesmo aqueles carrinhos de
cachorro-quente que tantas vezes salvavam nossa pele no final da tarde quando
batia aquela fominha...