segunda-feira, 15 de abril de 2013

No Volverán! No Volverán!




            Não voltarão! Era isso o que gritava a multidão entre bandeiras de partidos do Gran Polo Patriotico, Venezuela, Cuba e o Kollasuyu (bandeira dos povos originários), em uma eleição com altíssimo índice de participação (79% dos aptos a votar), sobretudo para um país em que o voto é facultativo, o que indica uma profunda politização. Deve-se lembrar a enorme quantidade de eleições pelas quais a Venezuela tem passado, o que pode ter como consequência um certo enfado por parte da população.
            Desde que Chávez tornou pública sua doença, logo pensei que era este o momento da verdade, a prova de fogo da Revolução Bolivariana. O momento de sabermos quais os limites do que temos até agora, quais os pontos fracos e fortes e a real possibilidade de seguir adiante sem Chávez.
            A pouca vantagem de Maduro é um prato cheio para a oposição, que cresceu 1 milhão de votos (!) – mas as reais causas são difíceis de analisar, já que as pesquisas não se mostraram corretas. Capriles já disse que não reconhece os resultados. O grande perigo está na confrontação que pode derivar daí.
Não há dúvidas de que esperamos esse resultado até o último momento e que agora o que se faz presente é que cabe a nós, passado o alívio da vitória, prestar atenção em alguns pontos. Não vou me ater àquilo que já sabemos, os logros desse processo de 1999 até aqui.
Bateu na trave, é gol! Foi por pouco...
            Aqueles – dentre os quais me encaixo, que esperavam uma vitória acachapante sofreram com um balde de água fria na cabeça. Essa foi a menor diferença eleitoral desde 1998 (!) quando Chávez ganhou por 51% a 49%. Foi justamente esse o resultado anunciado pelo Consejo Nacional Electoral entre Maduro e Capriles.
            Temos de dizer que Maduro é um péssimo orador, o que não retira sua habilidade política. Mas seu discurso exageradamente cristão e seu apego à imagem de Chávez não lhe permitiu deixar claro para toda a população – principalmente os indecisos, qual a Venezuela que virá adiante.
            A nova cara da velha oposição
            A oposição veio se fortalecendo nos últimos anos e isso é um fator a ser levado em conta. Percebeu que seu discurso antipopular, privatizante não lhe levaria mais do que a simpatia da minoria mais rica, saudosa da antiga República e da alternância entre dois partidos oligárquicos no poder. Já comentei sobre isso antes.
            A oposição, sobretudo Capriles, soube incorporar a linguagem do movimento bolivariano. Passou a usar a bandeira venezuelana em seus comícios, passou a atacar Maduro sem lançar pedras contra Chávez, bem como as palavras que usa em seu discurso por vezes coincidem com as de Chávez. Mas isso é a aparência, a essência é a que estamos acostumados na América Latina, afinal, Capriles foi um dos protagonistas da tentativa de Golpe em abril de 2002.
            A questão é que não basta restringir a luta política à redução da pobreza, porque a oposição pode incorporar (mesmo que no discurso) à sua agenda os programas de assistência social. Apenas isso não basta. Muito tempo de poder desgasta SIM, como sabemos. É preciso saber sempre avançar e recuar.
            “¡El problema es que usted no es Chávez!”
            Essa frase foi dita até a exaustão por Capriles, mas não a usarei aqui da maneira mesquinha como ele a usou. Maduro é um histórico militante socialista, vindo do meio sindical, da clase popular, fez um excelente trabalho como chanceler do governo bolivariano (bote o ingresso da Venezuela no Mercosul e a CELAC na conta dele), e não foi escolhido por Chávez à toa, até porque de bobo Chávez não tinha nada.
            Maduro, apesar disso, realmente não é Chávez. Chávez vinha consolidando sua liderança desde 1992. Apesar de toda sua trajetória louvável, Maduro é um fato político mais recente na vida política Venezuelana, tendo sido mais um homem de bastidores do que de holofotes. Mas já deu algumas pistas. Disse que não haverá pacto com a burguesia.
            Chávez provinha do meio militar, portanto, não só sabia como pensavam os militares como também como ganhá-los e também não descuidou da formação política dos quadros militares, dando-lhes uma feição progressista. Se boa parte das Forças Armadas se declara bolivariana e constitucionalista, sabemos que nunca é demais se precaver, até mesmo porque em matéria de golpe de Estado a América Latina tem PhD. Maduro não é um militar, mas esperamos que saiba ter consigo esse importante setor, cujo porta-voz se declarou com a Constituição.
Al final del viaje... Conclusão?
            Tenho claro que o que há na Venezuela é um processo social, uma revolução política em curso. Por ser processo há uma operação dialética entre a revolução e a contrarrevolução. Não há revoluções irreversíveis.
            Não vislumbro a possibilidade de Maduro levar adiante o projeto de industrialização sem o acirramento da luta de classes e aqui se testará Maduro enquanto liderança política mais a fundo.
            Se a esquerda venezuelana quer passar sem grandes sustos, o Gran Polo Patriotico precisa se preocupar e muito com a conscientização e a educação política dos mais pobres. A oposição cresce e é hora de colocar a superação do desgaste na ordem do dia.
            Maduro precisa agora consolidar sua liderança. Apenas falar sobre Chávez e o sentimento cristão não resolverá o problema. Muitos talvez não tenham votado em Maduro porque não veem nele alguém capaz de garantir a estabilidade política.
É um ponto positivo que haja uma direção coletiva político-militar, isso indica que há a intenção de superar a centralização que caracterizava uma das principais deficiências do chamado “chavismo”.
Temos que reconquistar a hegemonia nos espaços perdidos. Lembrando Salvador Allende: pensemos no amanhã duro que teremos por diante...
           

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