quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cadê o gatinho que estava aqui?





            Depois de 12 anos parecia que finalmente a oposição venezuelana havia reencontrado seu rumo. Depois do golpe fracassado em Abril de 2002, o boicote às eleições em 2006, Henrique Capriles Radonsky aparecia como alguém equilibrado, que estava disposto a “manter o que é bom”, “dando um choque de eficiência”.
            Capriles apareceu sustentando uma argumentação antiga da direita latino-americana de que haveria duas esquerdas na América Latina. Uma democrática, com a qual se pode dialogar, conciliadora das classes, liderada por Lula e outra totalitária, nostálgica da URSS, que quer destruir as instituições democráticas latino-americanas, mediante propostas populistas e acirramento das lutas de classes. O primeiro a desenvolver essa tese foi o ex-socialista Teodoro Petkoff, convertido à religião do neoliberalismo.
            Capriles, então, apareceu reivindicando a imagem de Lula, mesmo após este ter dado seu apoio a Chávez, e agora a Maduro. Mas Capriles teve uma virtude. Percebeu que a oposição tradicional colapsou, e não ganhará nunca mais as eleições com seu antigo projeto. A IV República era de um grau de corrupção altíssimo, as políticas econômicas neoliberais destruíram o país e a alternativa liderada por Chávez soube construir sua hegemonia. O que Capriles fez, então, foi “incorporar” ao seu discurso as misiones de Chávez, afirmando que iria trazer a elas a eficiência da “administração”. Seu programa, porém, fala em fazer isso por meio de parcerias com a iniciativa privada, o que, sabemos,  representa a privatização das misiones.
            Quem ainda duvidar da real cara de Capriles, por detrás das máscaras, pode acessar a esse artigo: http://migre.me/dZvLl.

A metamorfose – Quando a bela vira fera
            Entretanto, após a morte de Chávez, aquele dócil mocinho, de cabelo arrumadinho deu lugar a um bicho estranho. Capriles ameaçou não concorrer as eleições, visando deslegitima-las e desmoralizar Maduro, que foi implacável na defesa de que a oposição concorresse às eleições e que os dois lados reconhecessem os resultados. Capriles chegou até mesmo a afirmar que o governo e a família de Chávez estavam omitindo a morte de Chávez para ganhar tempo, uma atitude descabida, dada a comoção popular causada por sua morte.
            Aqueles que conhecem a trajetória de Capriles, porém, não se assustam. Aqueles que acompanham a vida política venezuelana e sabem quem o apóia, tampouco.
            O discurso equilibrado de outrora está dando lugar a uma campanha desesperada de ódio e medo. Um deputado no final do ano passado “saltó la talanquera”, como se diz lá, e passou da oposição para o governo, afirmando que não poderia ser conivente com a corrupção. Outros três suplentes da Mesa de Unidad Democrática também abandonaram a coalizão, afirmando que a MUD se prepara para o não reconhecimento dos resultados das eleições, o que seguramente levaria a uma confrontação. Por esses dias, também se conheceram ligações da extrema-direita de El Salvador (Partido ARENA – inspirado na nossa Arena, e Forças Armadas), com ligações com Capriles. O Presidente salvadorenho Funes disse que investigará o caso, pois suspeita-se de um plano de magnicídio.
            A estratégia da campanha está sendo a de “raptar” a simbologia do processo revolucionário. O slogan “hay un camino” está claramente inspirado nas palavras de Chávez. Em um comício realizado há poucos dias atrás nem mesmo o cantor comunista Alí Primera foi poupado, tendo sido usado pela direita. (sobre o assunto recomendo outro artigo: http://migre.me/dZvMa).
O que está em jogo na Venezuela?
            A Venezuela é sem dúvida o processo mais avançado dentre os projetos pós-neoliberais.
            Capriles encarna o desespero da direita latino-americana, que busca por todos os meios voltar ao poder. Sua vitória significaria um retrocesso sem precedentes. O projeto da integração latino-americana, não só econômica, mas política, a organização dos movimentos populares, a volta das privatizações, enfim, a volta dos anos 1990.
            Enquanto isso, a palavra de ordem no programa econômico de Maduro é contundente: industrializar o país e fortalecer a agricultura. O que isso significaria? O começo da independência econômica do país, que possui terras férteis, mas importa comida, porque os governos anteriores priorizaram sempre o petróleo, um país com enorme potencial exportando matéria-prima.
Felizmente, os venezuelanos não têm ilusões e sabem que dentro dos limites do capitalismo é impossível concretizar esse projeto. Talvez por isso uma das primeiras atitudes de Maduro tenha sido chamar o Partido Comunista da Venezuela (que faz várias críticas ao processo, afirmando a necessidade de sua radicalização), para se incorporar à direção político-militar da revolução bolivariana.
Na Venezuela está se disputando o destino da luta de classes na América Latina e a consolidação de um projeto alternativo ao neoliberalismo, de viés socialista. A revolução socialista não vem de cima pra baixo, ela é construída por um processo, no qual a tomada do poder constitui uma parte (crucial, mas uma parte). Por isso devemos estar com Maduro.

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