Quando ano passado defendi no segundo turno
que a tarefa da esquerda era a de eleger Haddad e derrotar Serra, disse que não
tinha ilusões em relação a seu governo. Porém, nem em mil anos eu acreditaria
que na cidade de São Paulo o poder público iria intervir em prol da população
pobre contra o capital financeiro.
Semana
passada (dia 26/03) pela manhã a Polícia Militar de São Paulo iniciou a
desapropriação de um terreno no Jardim Iguatemi, em que vivem aproximadamente
750 famílias, que seriam despejadas, engrossando as estatísticas do nosso já
altíssimo déficit habitacional.
Sabemos
que no caso das remoções a violência é a regra e não a exceção. A Polícia
Militar lançou bombas de gás lacrimogêneo nos moradores de modo a cumprir a
ordem judicial.
Após
o fracasso da negociação com o dono do terreno, Haddad afirmou que decretaria o
terreno de utilidade pública e suspendeu a reintegração.
O
ideário da cidade neoliberal, que ganhou muita força nos anos 1990, a
privatização do espaço público, são consequências de uma crise civilizatória.
Uma cidade que segrega seus pobres e que criminaliza a pobreza. Essa é a cara
de São Paulo e de uma grande parte de seus habitantes que reproduzem essa
ideologia, essa falsa consciência, essa falsa representação da realidade.
Não
consigo me lembrar de qual foi a última vez em que vi o poder público enfrentar
esse ideal de cidade e a especulação. Impossível. Talvez na gestão Erundina. A
gestão de Haddad pode ter mil e um defeitos, seu programa pode não estar à
altura das necessidades de São Paulo e podemos nos colocar como oposição
programática a ele. Mas, não há dúvidas de que esse é realmente um fato
positivo, inesperado, e que merece nosso apoio. Haddad esteve à altura de quem
o elegeu.
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