As
origens da direita da Esquerda estão, sobretudo, na opção que a
social-democracia fez pelo reformismo. A restrição da luta socialista aos
marcos meramente parlamentares, das instituições burguesas, as reformas sociais
visavam unicamente atenuar o conflito entre capital e trabalho.
O Golpe
Militar no Chile em 1973 significou um revés enorme para a esquerda. As forças
reformistas, moderadas, que vinham construindo o Estado de bem-estar social,
sobretudo após a crise deste adotam uma postura profundamente eleitoreira.
Evidentemente as consequências programáticas foram implacáveis.
O "trabalhista" Tony Blair fez coro com Bush pela guerra | no Afeganistão |
Para
ganhar as eleições, a social-democracia tinha de mostrar-se, comprometido com a
concepção liberal de democracia, contra o que significava o comunismo naquela
época (o socialismo real) e capaz de
gerir o capitalismo em crise. De Margareth Tatcher em diante, os “socialistas”
aplicaram cortes nos gastos públicos, sustentando altas taxas de juros e
cortando benefícios sociais, desmantelando o Estado de bem-estar social em nome
do “equilíbrio fiscal”. Durante a última
crise capitalista, três países periféricos (Grécia, Portugal e Espanha) eram
geridos por partidos que adotaram o “socialismo democrático” ou o “liberalismo
social”. E quando os trabalhadores se levantam para dizer que não pagarão pela
crise, a resposta é repressão.
Embora essa
constatação se faça mais nos países centrais, o caso latino-americano não é tão
distinto. No caso brasileiro é ainda pior, pois a nossa social-democracia
nasceu já sob influência da social-democracia europeia sem inserção no meio
sindical, nem partido de massa. Sobre este último assunto há um artigo
excelente de Anderson Deo na revista Novos Temas nº 7.
A
Concertación – que aglutina setores da social-democracia, do liberalismo social
e da democracia cristã, que governou o Chile durante 20 anos não afrontou a
política econômica herdada de Pinochet, um neoliberalismo de deixar Hayek
orgulhoso, nem foi capaz de realizar uma Constituinte, afinal, a atual
Constituição foi uma imposição de Pinochet como condição para deixar o poder.
Na Venezuela o responsável pelo absurdo choque neoliberal em 1989, que
desencadeou a crise do Caracazo, foi
nada menos do que Carlos Andrés Perez, da Acción Democratica, filiada à
Internacional Socialista.
O caso do
eurocomunismo também não é menor. Surgido como uma alternativa ao modelo
soviético, buscando inovações teóricas e práticas, inspirados sobretudo na
experiência chilena, foi adotada pelos principais partidos comunistas europeus
(PCI, PCE, PCF). Tendo na ampliação da aliança de classes, o momento histórico
nacional e a luta eleitoral e parlamentar suas principais propostas, não
concebia a necessidade da ruptura com a dominação burguesa, adotando o processo
de “democratização” como bandeira. (Braz; 2011). Hegemonia, acúmulo de forças,
guerra de posição; o que se fez de fato foi uma leitura reformista e equivocada
de Gramsci.
O brilhante
economista marxista Ernest Mandel em sua famosa crítica ao eurocomunismo,
afirmou se tratar de uma volta à antiga social-democracia. Como se trata de um
complexo fenômeno, terminaremos por dizer que seu caminho foi o mesmo da
social-democracia. Assim como o PCI, como tal, veio a falecer em 1991, adotando
primeiro o nome de “Democráticos de Esquerda” e hoje “Partido Democrático”,
converteu-se ao eleitoralismo e a politicagem parlamentar. Entretanto, partidos
como a Rifondazone Comunista, o Partito dei Communisti Italiani, dentre outros,
tentam recuperar a tradição marxista.
A direita da
esquerda abandonou a perspectiva da transformação social, em nome das práticas
eleitoreiras da politicagem tradicional.
Referência bibliográfica:
BRAZ, Marcelo. Partido e
Revolução (1848 – 1989). São Paulo: Expressão Popular, 2011.