segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ser ou não ser, o velho novo dilema

    No meio do fogo cruzado surgem ideias boas, ruins, algumas que podem perdurar, outras que morrem em seguida. Por medo de escrever muita bobagem e também pelo conturbado final de semestre, não pude cuidar deste cronicamente moribundo blog.
    Penso já ser possível pensar em algumas indicações bem primárias para tentarmos compreender as mobilizações, embora outros muito mais competentes já o tenham feito.
 
Conciliação de classes e limites do neodesenvolvimentismo
    As manifestações nos mostram que podemos estar chegando ao fim de um ciclo. Lula foi, por assim dizer, o grande “bombeiro da luta de classes”. Conseguiu conciliar os interesses da maior parte da classe trabalhadora (o subproletariado) com os de uma boa parte da burguesia interna (vou sugerir fontes no final desse texto).
    Entretanto, nenhum pacto de classes é eterno e todo desenvolvimento capitalista nos países dependentes tem curto prazo de validade. A redução lenta da pobreza no governo Lula-Dilma, a redução da desigualdade (igualmente lenta), e as melhores condições econômicas, mas principalmente o baixo índice de desemprego possibilitaram melhores condições de luta, bem como permitem que se coloque na ordem do dia a conquista de mais direitos sociais, o que fica visível quando vemos reivindicações que nos parecem vazias como “mais educação”, “mais saúde”, “revogação do aumento da tarifa”.
    A grande maioria que está nas ruas é a juventude, seja de uma classe média, que outrora fora aliada da esquerda, e de uma classe trabalhadora não-organizada e sem perspectivas. O inimigo de classe está nas ruas, mas para tentar capitanear essa vontade de mudança, mas não é ele a essência do movimento.
    O fato de haver uma grande despolitização nas manifestações não anula o anseio por mudanças. São anos de uma educação política pautada pela Veja, pela Globo, pela Folha e pelas Igrejas evangélicas, bem como o silêncio da esquerda e sua restrição aos debates fratricidas.
    Não poderia passar sem deixar o elogio à Dilma por (bem ou mal) ter chamado à necessidade da reforma política. Deixou a postura defensiva da “gestora”, deixou a tecnocracia e politizou a política. Cabe ao Partido dos Trabalhadores sair da sua postura excessivamente defensiva, de refém do governismo e entrar no debate político com a sociedade, bem como toda a esquerda organizada (PSOL, PSTU, PCB, sindicatos, entidades estudantis e o escambau).
A disputa é por dentro!
    Depois das abusivas repressões (que não pararam ainda em boa parte do Brasil), a mídia percebeu que em tempos de youtube e facebook a manipulação de imagens não dá mais conta. A tática da classe dominante passou a ser se organizar dentro das manifestações e pautá-las de acordo com seus interesses.
    O que estava acontecendo era algo extraordinário que a esquerda não percebeu, e que uma boa parte não percebe, pois como nos lembra Marx os homens fazem, mas não sabem que fazem. O que aconteceu nesse momento é que a batalha ideológica voltou de forma a engrossar a luta de classes depois de ter tido um bruto arrefecimento nos anos 1990.
    E não se deve ter uma visão caricatural da luta de classes. Ela não é necessariamente a invasão do Palácio de Inverno com tochas acesas, não é necessariamente armar barricadas na Espanha. Ela é toda a disputa política que tem como norte avançar ou retroceder.

Como diria Lênin...
    E aqui penso, modestamente, que é necessário voltarmos nossas atenções. A recusa aos partidos de esquerda, que “nunca dormiram”, é um elemento importante que nos mostra que as organizações de esquerda não conseguiram ao longo desses anos falar a língua do povo como conseguiam nos anos 1980. Precisamos nos deter muito sobre esse tema para avançar.
    Isso somado ao ataque brutal de organizações de direita que insuflaram manifestantes a agredirem militantes da esquerda, a rasgarem bandeiras de partidos, sindicatos, movimentos Negro e LGBTT, fez com que muitos do nosso lado deixassem de lado a importância dessas manifestações, o que significa dar munição para a direita.
    Não é um bom caminho para quem quer avançar. Quando disserem “contra a corrupção” temos de dizer SIM! Que se investiguem as privatizações, as empresas privadas que recebem financiamentos públicos, concorrências públicas, que se tenha na participação popular mecanismos de controle. E por aí vai...
    O momento é de ganharmos as consciências e não de abandoná-las à própria sorte, permitindo que o aventureirismo da direita nos leve a retroceder ainda mais.
    A solução para o problema vem na pergunta de Lênin: QUE FAZER? Não existe fórmula mágica. Mas quanto mais cedo começarmos a pensar, mais cedo poderemos forjar a unidade na esquerda, que não precisa ser unidade nas urnas, mas nas lutas e mais cedo poderemos passar a ação efetiva. Não é hora de sectarismo infantil, o que se abre diante dos nossos olhos é a possibilidade de mudança progressiva ou regressiva.

Os artigos que sugiro são: Raízes sociais e ideológicas do lulismo, de André Singer e As bases políticas do neodesenvolvimentismo de Armando Boito Júnior.

4 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fran disse...

Somente comentários referentes ao assunto do texto serão aceitos. Mentiras, mistificações não serão toleradas em hipótese alguma.

Fran disse...

O comentário que exclui possuía este conteúdo. Deixo-o aqui para que as pessoas de bom senso verem que não foi exagero ou autoritarismo de minha parte: http://microchipvictim.wordpress.com/