Uma
notícia sacudiu os meios de comunicação de todo o mundo nos últimos dias.
Depois de um intenso ano de batalhas e baixas, por fim o Governo Colombiano e
as FARC-EP resolveram sentar à mesa para iniciar conversas pela paz, tendo a mediação dos governos de Cuba e Noruega, tendo já o apoio dos governos chileno, brasileiro e venezuelano.
De
repente, um tema que por tantas vezes é marginalizado da pauta dos jornalões e
que quando é tratado o é de forma muito parcial, volta à tona com a seguinte
pergunta: Qual será o futuro das negociações? Aqueles
que conhecem um pouco da História colombiana terão muita dificuldade em
acreditar na possibilidade de um verdadeiro progresso.
Na década de 1980, durante o
governo Belisario Betancourt, as FARC resolveram juntamente com outras forças
da esquerda formar a Union Patriótica para concorrer às eleições, passando a
fazer política dentro do terreno institucional e demonstrando, então,
disponibilidade para uma alternativa ao conflito armado e que teve por volta de
3 mil membros mortos (entre eles prefeitos, deputados, candidatos à presidência,
dentre outros militantes) por grupos
paramilitares, com a mais vergonhosa conivência do governo, que simplesmente
calou diante dos fatos e com participação direta de seus membros e das Forças
Armadas. Restou a esses militantes ou o exílio ou a volta à luta armada. (Sobre
o tema há dois documentários interessantes: “El baile rojo” e “Memoria de los
silenciados”).
Durante o governo Andrés
Pastrana, na década de 1990, houve por parte do governo uma proposta de
diálogo, tendo sido criada uma zona desmilitarizada para o diálogo, bruscamente
interrompida pela ausência de Manuel Marulanda (líder histórico das FARC, morto
em 2008) por questões de segurança, tendo o governo, dessa forma, cedido à
pressão dos Estados Unidos e renovado o acordo com Bill Clinton para a
continuidade da intervenção militar norte-americana no País. Entretanto, vale ressaltar a ofensiva militar e o aumento de sequestros promovidos pelas FARC durante esse período.
Embora o retrospecto seja
sobejamente desanimador é preciso compreendê-lo dentro da atual Colômbia, e não
como há 40 anos como gostam alguns militantes da esquerda e da direita.
Houve, depois do governo proto-fascista de Alvaro Uribe, um
despertar da esquerda. Denúncias de violações aos direitos humanos, a cassação
do mandato de Piedad Córdoba (interlocutora junto com Hugo Chávez de diversos
acordos humanitários para a liberação de sequestrados em poder das FARC),
influenciaram uma maior mobilização da sociedade civil colombiana, que viu
nascer a Marcha Patriótica e a agrupação Colombianas e Colombianos por la Paz e
as mobilizações estudantis em 2011.
As FARC deram muitos passos à
frente nos últimos tempos, tendo se colocado a disposição para libertar seus
sequestrados e tendo abandonado uma prática que nada tem a ver com os ideais da
esquerda, o sequestro de civis – e de qualquer civil, mais precisamente.
Resta saber se os latino-americanos
podemos confiar em Juan Manuel Santos, atual presidente colombiano e
ex-ministro da Defesa de Uribe como alguém confiável para o diálogo. A verdade
é que os colombianos não aguentam mais o conflito armado e que sua saída pela
intervenção imperialista, além de ser ultrapassada, nefasta e devastadora para
os povos da América Latina, se mostrou indubitavelmente um fracasso. Sabemos
que nunca se tratou de uma Guerra às Drogas na Colômbia, uma vez que os
paramilitares e os grande narcotraficantes historicamente estiveram aliados com
o governo e com o Exército para combater as FARC, pelo menos até meados da
década de 1990.
De qualquer forma, parece ter-se
dado um passo à frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário