quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Diálogos de paz na Colômbia – Um passo à frente e um futuro incerto.







            Uma notícia sacudiu os meios de comunicação de todo o mundo nos últimos dias. Depois de um intenso ano de batalhas e baixas, por fim o Governo Colombiano e as FARC-EP resolveram sentar à mesa para iniciar conversas pela paz, tendo a mediação dos governos de Cuba e Noruega, tendo já o apoio dos governos chileno, brasileiro e venezuelano.
                De repente, um tema que por tantas vezes é marginalizado da pauta dos jornalões e que quando é tratado o é de forma muito parcial, volta à tona com a seguinte pergunta: Qual será o futuro das negociações?            Aqueles que conhecem um pouco da História colombiana terão muita dificuldade em acreditar na possibilidade de um verdadeiro progresso.
Na década de 1980, durante o governo Belisario Betancourt, as FARC resolveram juntamente com outras forças da esquerda formar a Union Patriótica para concorrer às eleições, passando a fazer política dentro do terreno institucional e demonstrando, então, disponibilidade para uma alternativa ao conflito armado e que teve por volta de 3 mil membros mortos (entre eles prefeitos, deputados, candidatos à presidência, dentre outros militantes) por  grupos paramilitares, com a mais vergonhosa conivência do governo, que simplesmente calou diante dos fatos e com participação direta de seus membros e das Forças Armadas. Restou a esses militantes ou o exílio ou a volta à luta armada. (Sobre o tema há dois documentários interessantes: “El baile rojo” e “Memoria de los silenciados”).
Durante o governo Andrés Pastrana, na década de 1990, houve por parte do governo uma proposta de diálogo, tendo sido criada uma zona desmilitarizada para o diálogo, bruscamente interrompida pela ausência de Manuel Marulanda (líder histórico das FARC, morto em 2008) por questões de segurança, tendo o governo, dessa forma, cedido à pressão dos Estados Unidos e renovado o acordo com Bill Clinton para a continuidade da intervenção militar norte-americana no País. Entretanto, vale ressaltar a ofensiva militar e o aumento de sequestros promovidos pelas FARC durante esse período.
Embora o retrospecto seja sobejamente desanimador é preciso compreendê-lo dentro da atual Colômbia, e não como há 40 anos como gostam alguns militantes da esquerda e da direita.
Houve, depois do governo proto-fascista de Alvaro Uribe, um despertar da esquerda. Denúncias de violações aos direitos humanos, a cassação do mandato de Piedad Córdoba (interlocutora junto com Hugo Chávez de diversos acordos humanitários para a liberação de sequestrados em poder das FARC), influenciaram uma maior mobilização da sociedade civil colombiana, que viu nascer a Marcha Patriótica e a agrupação Colombianas e Colombianos por la Paz e as mobilizações estudantis em 2011.
As FARC deram muitos passos à frente nos últimos tempos, tendo se colocado a disposição para libertar seus sequestrados e tendo abandonado uma prática que nada tem a ver com os ideais da esquerda, o sequestro de civis – e de qualquer civil, mais precisamente.
Resta saber se os latino-americanos podemos confiar em Juan Manuel Santos, atual presidente colombiano e ex-ministro da Defesa de Uribe como alguém confiável para o diálogo. A verdade é que os colombianos não aguentam mais o conflito armado e que sua saída pela intervenção imperialista, além de ser ultrapassada, nefasta e devastadora para os povos da América Latina, se mostrou indubitavelmente um fracasso. Sabemos que nunca se tratou de uma Guerra às Drogas na Colômbia, uma vez que os paramilitares e os grande narcotraficantes historicamente estiveram aliados com o governo e com o Exército para combater as FARC, pelo menos até meados da década de 1990.
De qualquer forma, parece ter-se dado um passo à frente.

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