quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Esquerda Marxista do PT e os problemas da Esquerda no Brasil





A Esquerda Marxista do PT, corrente pela qual sempre nutri grande respeito e apreço, lançou na quarta-feira do dia 12 de setembro de 2012, uma nota intitulada “A política de alianças da Direção do PT e de Lula está levando o partido à derrota” (ver no link a seguir http://migre.me/aMdWU).
A análise em relação ao PT é perfeita, valendo-me da aliteração. O Milton Temer (do PSOL-RJ, e ex-deputado federal pelo PT, um homem brilhante e honrado) já havia alertado em carta aberta à militância do PT o risco do desgaste que essa política de alianças e o abandono programático estava levando, evocando as lições da social-democracia europeia, mais precisamente da Espanha, que – num momento de crise, perdeu as eleições para uma direita retrógrada e nostálgica do franquismo.
Denunciando a aprovação de projetos do Governo contra os trabalhadores de forma consequente, chega a uma conclusão muito clara e correta:
“[...] Essa política de alianças, outrora apresentada como a razão das vitórias eleitorais agora mostra a sua cara. Quando o PT estava forte e com a militância nas ruas o partido tinha candidatos e se impunha ganhando eleições. Foi assim que chegou à presidência. Mas, esta política de colaboração de classes e de subordinação do PT aos interesses dos capitalistas corrói o partido, desmoraliza e afasta a militância. [...]”
Diagnosticando que a manutenção dessas políticas de conciliação só pode levar a classe trabalhadora a “derrotas trágicas”, parece deixar claro que dentro do PT não há mais muito por se fazer. A tática de ganhar posições dentro do PT não deu certo. A direção petista não está mais interessada na ruptura da ordem, muito menos em fazer reformas que poderiam causar algum incômodo para o mercado financeiro em prol dos trabalhadores.
Porém, nem tudo é o que parece. A Esquerda Marxista em seu documento critica de forma acertada o PCdoB como um partido sem princípios, basta pensar no código florestal e sua presença em coligações com o PMDB ou PP e até mesmo com o PSDB em alguns lugares, também o PSTU por seus desvios esquerdistas e infantis, que pode ser notada em suas ações sempre destrutivas e nunca construtivas e o PCO como “ultra-esquerdista” e “inútil”, e de fato o é, está mais preocupado com debates acadêmicos do que com a construção de um projeto socialista para o Brasil. Comete, porém,  injustiças graves em relação ao PSOL e ao PCB.
Em relação ao PSOL, comete um erro de análise que é muito cometido contra o PT e que sempre foi objeto de críticas por parte de militantes honestos da base do PT. Concebe o PSOL como um bloco homogêneo, criticando a direção por buscar uma política de Frente Popular, lembrando também da crise do Partido em 2010, quando Heloísa Helena quis apoiar a candidatura de Marina Silva do PV e tentando relacionar isso de alguma forma com o “reformismo” da direção. De fato, Heloísa Helena (com a qual tenho divergências seríssimas que me fazem duvidar muito do caráter “socialista” dela), tentou apoiar Marina e foi impedida pela base do Partido, e isso a Esquerda Marxista oculta, prefiro acreditar que é por falta de informação, acabando por não tocar num ponto muito interessante: os militantes do PSOL não querem apoiar candidatos da ordem, estão mais interessados em construir um projeto próprio da esquerda, o que demonstra um potencial animador.
Sobre uma suposta formação de uma Frente Popular, seria melhor do que o PT, que busca formar uma Frente Anti-popular (brincando com o conceito) que aglutina setores do conservadorismo, que como o Vladimir Safatle advertiu, estão ganhando vida própria e são muito perigosos para a classe trabalhadora porque fugiram do controle do Governo, é só pensarmos no Russomano, do PRB, liderando com folga as pesquisas de intenção de voto em São Paulo.
Não acho que a intenção do PSOL seja formar uma Frente popular porque nunca vi qualquer ilusão em relação à uma suposta burguesia-nacional disposta a apoiar uma revolução nacional-democrática, o que torna a crítica anacrônica.
Entretanto, a crítica que se direciona a um setor majoritário do PSOL que fez a opção de ser um partido essencialmente moralista, entrincheirado com a bandeira de ética na política é bem correta, pois o ponto que devemos tocar é o de que a corrupção beneficia certos setores por uma questão estrutural, que não deve ser reformada, mas que segundo o que nós, socialistas e comunistas, acreditamos, deve ser destruída.
Em relação ao PCB a crítica é ainda mais séria. A de que o Partido é “muito pequeno” (ora, e a Esquerda Marxista ou o PSOL são muito grandes), além do fato de que não faz questão de compreender a questão do estalinismo e do papel que o PT desempenhou em relação à classe trabalhadora.
Com relação ao Partido ser muito pequeno, o próprio Alan Woods (um marxista brilhante, que lidera a Corrente Marxista Internacional, da qual a Esquerda Marxista é secção no Brasil), colocou em uma palestra, da qual me lembro muito bem, pois me encheu de ânimo, que o Partido Bolchevique no período pré-revolucionário era inexpressivo, mas que com o desenrolar das condições históricas que se foram dando, foi num crescendo que tornou aquele Partido poderoso e com muitos militantes.
Além disso, o PCB em Seminários realizados com grandes quadros intelectuais e com uma trajetória no mínimo respeitável e honorável de lutas no começo do ano se abriu para uma profunda autocrítica em relação à sua História. Criticando a concepção nacional-democrática de revolução, criticando o reformismo nos anos 80, que levou ao racha de 1992. Enfim, quando se criticam essas concepções, será que não se tem senso autocrítico?
Com relação ao papel que o PCB vê no PT, não vejo isso de forma tão categórica. Há divergências entre vários militantes sobre o que foi o PT e o que levou a esse transformismo.
Diante desse quadro, como se pode pensar numa saída?
Primeiramente, TODAS as organizações políticas da esquerda precisam de um banho de humildade. Elas não são o partido de Lênin, e a política de autoproclamação já levou a derrotas demais para insistirmos na mesma estupidez.
Os problemas mais sérios e as lutas mais candentes no Brasil seguramente estão no programa de todos esses partidos e organizações, seja pela Reforma Agrária, seja por combate à especulação imobiliária.
A crítica entre camaradas deve ser rigorosa, com embasamento, mas sempre num sentido construtivo e dialético.
O fato é que precisamos criar canais de diálogo para a esquerda, que quando se reúne numa mesa para conversar não consegue manter uma conversa civilizada por nem 5 minutos. E isso num momento em que o conservadorismo volta a ganhar força na mídia, nos setores religiosos e até mesmo entre alguns pseudo-intelectuais. Some-se a isso a crise da direita tradicional (PSDB e DEM) e iniciativas como a criação do Partido Militar Brasileiro (o PMB), mais o afastamento dos jovens não só em relação à ação política, mas também ao pensamento político e nos vemos numa situação bem complicada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A mobilidade urbana em São Paulo, por Gilberto Maringoni

Vídeo da campanha Maringoni para vereador.


Diálogos de paz na Colômbia – Um passo à frente e um futuro incerto.







            Uma notícia sacudiu os meios de comunicação de todo o mundo nos últimos dias. Depois de um intenso ano de batalhas e baixas, por fim o Governo Colombiano e as FARC-EP resolveram sentar à mesa para iniciar conversas pela paz, tendo a mediação dos governos de Cuba e Noruega, tendo já o apoio dos governos chileno, brasileiro e venezuelano.
                De repente, um tema que por tantas vezes é marginalizado da pauta dos jornalões e que quando é tratado o é de forma muito parcial, volta à tona com a seguinte pergunta: Qual será o futuro das negociações?            Aqueles que conhecem um pouco da História colombiana terão muita dificuldade em acreditar na possibilidade de um verdadeiro progresso.
Na década de 1980, durante o governo Belisario Betancourt, as FARC resolveram juntamente com outras forças da esquerda formar a Union Patriótica para concorrer às eleições, passando a fazer política dentro do terreno institucional e demonstrando, então, disponibilidade para uma alternativa ao conflito armado e que teve por volta de 3 mil membros mortos (entre eles prefeitos, deputados, candidatos à presidência, dentre outros militantes) por  grupos paramilitares, com a mais vergonhosa conivência do governo, que simplesmente calou diante dos fatos e com participação direta de seus membros e das Forças Armadas. Restou a esses militantes ou o exílio ou a volta à luta armada. (Sobre o tema há dois documentários interessantes: “El baile rojo” e “Memoria de los silenciados”).
Durante o governo Andrés Pastrana, na década de 1990, houve por parte do governo uma proposta de diálogo, tendo sido criada uma zona desmilitarizada para o diálogo, bruscamente interrompida pela ausência de Manuel Marulanda (líder histórico das FARC, morto em 2008) por questões de segurança, tendo o governo, dessa forma, cedido à pressão dos Estados Unidos e renovado o acordo com Bill Clinton para a continuidade da intervenção militar norte-americana no País. Entretanto, vale ressaltar a ofensiva militar e o aumento de sequestros promovidos pelas FARC durante esse período.
Embora o retrospecto seja sobejamente desanimador é preciso compreendê-lo dentro da atual Colômbia, e não como há 40 anos como gostam alguns militantes da esquerda e da direita.
Houve, depois do governo proto-fascista de Alvaro Uribe, um despertar da esquerda. Denúncias de violações aos direitos humanos, a cassação do mandato de Piedad Córdoba (interlocutora junto com Hugo Chávez de diversos acordos humanitários para a liberação de sequestrados em poder das FARC), influenciaram uma maior mobilização da sociedade civil colombiana, que viu nascer a Marcha Patriótica e a agrupação Colombianas e Colombianos por la Paz e as mobilizações estudantis em 2011.
As FARC deram muitos passos à frente nos últimos tempos, tendo se colocado a disposição para libertar seus sequestrados e tendo abandonado uma prática que nada tem a ver com os ideais da esquerda, o sequestro de civis – e de qualquer civil, mais precisamente.
Resta saber se os latino-americanos podemos confiar em Juan Manuel Santos, atual presidente colombiano e ex-ministro da Defesa de Uribe como alguém confiável para o diálogo. A verdade é que os colombianos não aguentam mais o conflito armado e que sua saída pela intervenção imperialista, além de ser ultrapassada, nefasta e devastadora para os povos da América Latina, se mostrou indubitavelmente um fracasso. Sabemos que nunca se tratou de uma Guerra às Drogas na Colômbia, uma vez que os paramilitares e os grande narcotraficantes historicamente estiveram aliados com o governo e com o Exército para combater as FARC, pelo menos até meados da década de 1990.
De qualquer forma, parece ter-se dado um passo à frente.