segunda-feira, 7 de maio de 2012

Europa realiza eleições "plebiscitárias" na França e na Grécia


    EM MEIO ao furacão da crise econômica, que sacode o Velho Mundo, Grécia e França votaram ontem para decidir seus respectivos futuros. Pode-se dizer que ambos os países votaram de forma plebiscitária entre aqueles que defendem a austeridade (que nada mais significa que corte de direitos sociais e segurança para a elite econômica) e aqueles que buscam um caminho mais racional e menos temerário para a resolução da crise capitalista.

 FRANÇA

       Após 17 anos o Partido Socialista Francês volta ao poder, conduzido pelo meu xará François Hollande. Apesar de ser uma vitória mais interessante do que a do Sarkozy, do ponto de vista da esquerda, devido às suas declarações anti-austeridade, vale lembrar que o Partido Socialista Francês é vinculado à Internacional Socialista, que há muito – já na I Grande Guerra, quando preferiu o nacionalismo burguês ao proletariado – definiu de que lado estava.
       Entretanto, Hollande surpreendeu ao falar grosso com o capital financeiro, quando falou em taxação de grandes fortunas. Resta saber se ele responderá aos anseios populares, uma vez que base para isto tem. Vale lembrar que muitos daqueles militantes que fizeram uma das mais bonitas manifestações já vistas, apoiando a candidatura da esquerda, de Melenchon, na Praça da Bastilha, votaram talvez mais contra o perigo que Sarkozy representava do que a favor de Hollande, que, de qualquer maneira recebe esses votos.
       Some-se a isso o apoio do centrista francês (e meu xará também) François Bayrou, que, de certa forma trouxe a possibilidade de um voto conservador em Hollande, bem como o posicionamento de Marine Le-Pen, que, contrariando todas as expectativas, declarou voto em branco, quando se esperava um apoio a Sarkozy. A mensagem dada por ela está bem clara. Ela está na briga pela liderança da direita francesa.
       O medo de queda nas Bolsas europeias, que se mostrou palpável pelos últimos acontecimentos, já o levou a um discurso conciliador no dia de hoje, remetendo muito à eleição de Lula em 2002, quando numa tacada de mestre o PT lançou a famigerada “Carta aos brasileiros”, em que afirmava seu compromisso com o Plano Real. Resta saber com que mão ele atuará, se com a mão esquerda (e tem base para isso), ou se com a mão direita, como os demais Partidos Socialistas fizeram nos últimos anos em Portugal, na Grécia e na Espanha.
       O que fica claro é que os franceses deram um NÃO categórico a austeridade e ao autoritarismo de Angela Merkel.

 GRÉCIA



      O caso grego, por sua vez é muito mais intrigante. Ao que parece, os eleitores gregos puniram os partidos tradicionais, comprometidos com o modelo econômico e o pacote de austeridade. Enquanto o conservador Nova Democracia perdeu 14% de seu eleitorado de 2009 para este ano, o PASOK perdeu 30% (!) de seu eleitorado, que lhe havia garantido 77% dos votos nas eleições de 2009, o que revela que aquela base que confiava no Partido Socialista como uma força capaz de garantir os direitos sociais migrou para a esquerda radical, esta sim que capitaneou as últimas lutas contra a Troika e os pacotes de austeridade.
     A origem deste bipartidarismo, que demonstra seus sinais de esgotamento, é bastante intrigante. Uma lei baixada pela Ditadura dos Coroneis, pouco antes de que estes deixassem o Poder, que garantia ao partido vencedor das eleições mais 50 deputados como bônus.

         Os resultados foram:

 DO BLOCO ANTI-AUSTERIDADE (DE ESQUERDA):
  SYRIZA (vinculado ao Partido de Esquerda Europeu), que reúne trotskistas, eurocomunistas, socialistas e ecologistas alcançou 17%, conquistando 52 cadeiras no Parlamento, alcançando um surpreendente segundo lugar;
  O KKE (Partido Comunista Grego), de orientação marxista-leninista, que teve um protagonismo crucial nas mobilizações de 2008 para cá, conseguiu 8% dos votos válidos, conquistando 26 cadeiras no Parlamento;
Apesar de ser uma expressiva votação, ainda não é o suficiente para barrar a ofensiva neoliberal que virá, porém, levando em conta os 35% de abstenção é possível verificar uma insatisfação com os partidos, o que poderá ser revertido em manifestações nas ruas, o que não seria de se estranhar dada a conjuntura grega dos últimos tempos.

 DO BLOCO DE CENTRO-ESQUERDA(?) – PRÓ-AUSTERIDADE
    O PASOK (Partido Socialista Pan-Helênico) alcançou 13% dos votos, o que lhe rendeu 41 lugares no parlamento;
    A DIMAR (Esquerda Democrática), de orientação social-democrata, alcançou 6% dos votos, o que lhe permite ocupar 19 lugares.

 DO BLOCO DA DIREITA – PRÓ-AUSTERIDADE
   O NOVA DEMOCRACIA vence, mas não leva, com 19% dos votos (apenas 2% a mais do que o segundo colocado, o SRIZA) o que lhe rende 108 lugares no Parlamento;
   OS GREGOS INDEPENDENTES, que já recusaram uma coalizão com o Nova Democracia, provavelmente demarcando uma disputa pela liderança da direita, alcançaram 11% dos votos, ou seja, 33 lugares no Parlamento;
  

      Os Verdes e o LAOS (de extrema-direita, que, a princípio integrou e depois rompeu com a Troika), não elegeram ninguém.

   

      O que é assustador é o crescimento dos neonazis, que chegaram a 7% (!) dos votos, que lhes permitirão ocupar 33 lugares no Parlamento, uma força assustadora.
      Vale ressaltar que muitas vezes, em momentos de crise, os votos direcionados para esses partidos, sejam da extrema-direita, sejam da extrema-esquerda, em geral são “votos flutuantes”, isto é, é mais um voto naquele que oferece uma solução imediata do que um voto ideológico, um voto emocional.
Líder do Partido Aurora Dourada (de orientação neonazista, evidente no símbolo "controverso")
      O discurso neonazi é o de punir os “usurários e traidores da pátria”, sem dar nome aos bois segue a velha tradição da extrema-direita, atirar para todos os lados visando agradar, a gregos e troianos (valendo a piadinha sem graça).
      Vê-se uma polarização da política na Grécia, que escancara a existência da luta de classes no século XXI, um princípio marxista que a direita, somada aos setores de uma suposta esquerda "democrática" tentou enterrar.
       O Nova Democracia encontra-se com uma bomba nas mãos. Os Gregos Independentes já se recusaram a compor uma coalizão. Provavelmente haverá uma aliança com o PASOK, o que seria o início de uma nova Era na Grécia, já que esses dois partidos polarizaram a vida política desde a queda do Regime dos Coroneis, sangrenta ditadura que caiu em 1974. Há ainda a possibilidade de uma união com o DIMAR, o que seria um caminho mais lógico, mas também inusitado.
    
"Os trabalhadores nada têm a perder, têm todo um mundo a ganhar".

      O que é alentador, todavia, é que a esquerda venceu nos maiores e mais populosos colégios eleitorais. Talvez estejamos assistindo ao começo da Primavera Europeia, uma vez que essa esquerda adormecida parece ter se levantado.

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