A
semana começou bem para os socialistas latino-americanos. A vitória de Rafael
Correa e o regresso de Chávez à Venezuela são dois grandes acontecimentos que
merecem ser comemorados. Se a vitória de Correa significa o aprofundamento do proceso de cambio equatoriano, o
regresso de Chávez é um grande alívio para o povo venezuelano e um passo mais
na direção da estabilidade.
Entretanto,
hoje me manterei dentro das fronteiras tupiniquins para falar novamente sobre o
que tem causado tanto rebuliço na grande mídia, a formação do partido (sim,
partido) de Marina Silva, que, apesar de ter feito, no discurso, a recusa da
forma partido como sendo ultrapassada, colocou-se no centro de todas as
discussões da rede e com uma falsa modéstia que é um atentado à inteligência
média da população quer nos fazer acreditar que “só se fala em candidatura à
presidência ano que vem...”, tá bom, acredito.
Quando
acertar é triste...
Nenhum
mérito para mim, mas quando escrevi pela primeira vez sobre o partido de Marina
coloquei de forma irônica o discurso “nem à esquerda, nem à direita, mas à
frente”, o que nada mais é do que uma continuação neoliberal da fórmula “nem
com os comunistas, nem com os capitalistas, estou com o povo” que é tão
familiar a nós latino-americanos em momentos nos quais o populismo emerge como
a salvação, que na prática é a garantia da reprodução das antigas relações de
produção com um ou outro ajuste. (http://caferevolucionario.blogspot.com.br/2013/01/um-cenario-inquietante.html)
Marina,
infelizmente – porque tenho admiração por sua atuação como Ministra do Meio
Ambiente, abraçou esse discurso, mas não se contentou, foi além. E suas cordas
vocais tremularam em uma frase absolutamente demagógica e infeliz que poderia
ter saído da boca de qualquer dirigente do PTB, PMDB, PSD, PV, PR e outras
legendas fisiológicas disse que não é governo, nem oposição, mas “assume
posição”.
Os
desdobramentos confirmaram, para mal, o que eu pensava. Seguindo a lógica de
neutralizar a neutralidade de forma neutra, afinal os riscos eleitorais estão
aí, Marina chega ao cúmulo de querer submeter a união civil entre pessoas do
mesmo sexo a plebiscito. Desde quando direitos humanos e civis são passíveis de
serem submetidos a plebiscitos? Direitos devem ser respeitados e ponto.
Imagine
que por um raio num dia de céu azul Marina vença as eleições e convoque esse
plebiscito absurdo (e mais adiante direi por que não acredito na vitória dela).
Quantas rádios, jornais, espaços na televisão, enfim, quantos meios de
comunicação de massa possuem a direita católica, os evangélicos reacionários,
os conservadores e quantos espaços possuem os movimentos progressistas e LGBTT
para defenderem seus pontos de vista? Pois é Marina, você renuncia à sua
trajetória anterior em para corroborar aquilo que Max Weber dizia: “neutro é
quem já optou pelo mais forte”.
No hay mal que por bien no venga...
Os ditados
populares espanhóis são sempre muito sábios. Uma das minhas grandes
preocupações é que Marina, até mesmo pela credibilidade que tem pela sua
militância anterior, ao mesmo tempo em que leva uma parte da direita que
precisa mais do que nunca fazer a barba e aparecer com uma cara nova para
evitar uma derrota eleitoral ainda maior do que as que vêm sofrendo de 2006 pra
cá, leva também muita gente boa consigo. O deputado Domingos Dutra (PT – MA),
Eduardo Suplicy (PT – SP), Jefferson Moura (PSOL – RJ), Alessando Molon (PT - RJ), e estava levando Jean
Wylys (PSOL - RJ), que – com toda razão do mundo, rompeu o diálogo com esse “movimento”
quando Marina disse que iria submeter os direitos dos homossexuais a plebiscito
e mas não bancava um plebiscito contra a isenção fiscal das Igrejas.
Afinal,
a História não se repete como farsa?
Olha
o canto da sereia, Ialaô, oquê, Ialoá! (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/02/marina-silva-e-os-bilionarios-que-embalam-seu-sonho.html )
A “Nova
Política” não tem só as velhas formas, mas também o velho conteúdo. Trata-se de
recusar a existência da luta de classes, a falsa recusa da forma partido,
aproveitando-se do desgaste da política institucional, em nome de recuperar a
“dimensão ética” (olha que lindo!) da política. Acontece que Política não é
gestão e essa importação da lógica empresarial à esfera política é o que a tem
feito refém do grande capital, principalmente com a ofensiva neoliberal.
Está
evidente que o que se pretende é despolitizar a política e isso é extremamente
perigoso. Marina não fala em mobilização popular, não fala em diálogo com os
movimentos sociais, muito menos em ideologia.
E claro,
como é uma nova forma de se fazer política, Marina aceitará as gordas e
desinteressadas doações de Neca Setúbal, herdeira do Itaú e de Guilherme Leal,
afinal, já aceitou doações da “ecológica” AMBEV em 2010, é muita “ética”.
A grande “socialista”
Heloísa Helena, Jefferson Moura e outros militantes da “esquerda” desiludidos
com o governo Lula, que era neoliberal, reacionário e o escambau sairão de um
partido que é uma esperança da esquerda para conviver com o dinheiro sujo da
AMBEV, do Itaú, com políticos egressos do DEM (ex-PFL e ex-ARENA), do PSD,
do PSDB em nome de uma “Nova Política”, é essa a lição de coerência que
pretendem mostrar aos militantes do PT? Esperava algo mais digno.
Defender
nossos recursos naturais sem pensar em romper com o atual padrão societário não
é “sustentável” do ponto de vista da honestidade intelectual, é cascata!
Marina,
morena Marina, eu tô de mal, de mal com você...
Memória
curta – da minha futurologia...
Como
prometido colocarei aqui por que não acredito na vitória de Marina. Embora ela
vá agradar tucanos envergonhados e a classe média órfã de um partido político
que responda a seus anseios por ética e “sustentabilidade” sem colocar em risco
seu suado dinheirinho tão espoliado pela “injusta” carga tributária
brasileira...
Marina
também se tornou uma figura conhecida, então o que é provável é que ela chegue
disparando nas primeiras pesquisas eleitorais ano que vem. Entretanto, sua
ambição pessoal, sua vaidade está fazendo com que ela se esqueça da experiência
de Lula em 1994. Naquela ocasião o PT decidiu começar a campanha em 1993, com a
caravana das águas, caravana da cidadania e o que aconteceu? A imagem se
desgastou. Lula começou lá em cima e terminou lá embaixo. Penso ser provável que isso se dê com Marina, mas, em matéria de
futurologia tudo sempre pode mudar, afinal as grandes transformações
históricas, felizmente, escapam do nosso controle.