terça-feira, 5 de junho de 2012

Chavismo e populismo chavista: Dois mitos



Chavismo?
                Um fantasma ronda a América Latina, não é o do comunismo, ainda. Entretanto, após a crise neoliberal da década de 1990 e de um refluxo da esquerda, em toda América Latina governos de corte progressista ascenderam ao governo.      Em 2007, Rafael Correa, presidente do Equador afirmou com todas as letras que “estava chegando ao fim a triste noite neoliberal na América Latina”.
            Ao perceber a radicalização do processo de mudanças na Venezuela, que, com todos os seus defeitos, segue com enormes conquistas sociais, ao ponto de num estudo realizado pela University of Columbia ser declarado o país mais feliz da América do Sul, sendo que “na Venezuela, há um sentimento de bem-estar geral, produto de uma política de distribuição equitativa da riqueza, implementada pelo presidente Hugo Chávez, logo tratou-se de particularizar a situação.
Quando se pretende criticar a Revolução Bolivariana, tanto da direita, como também a partir de setores que se pretendem de esquerda e que caem na armadilha preparada pela direita, fala-se em Chavismo. Mas o que é o chavismo?
Esses “ismos”, quando bem utilizados, significam que há uma doutrina com um embasamento teórico, como personalismo, socialismo, capitalismo etc.
No contexto do populismo na América Latina, lá pelos anos de 1930, 1940, até sua crise no fim dos anos 60, podia-se falar em “peronismo”, “varguismo” porque ambos formularam um pensamento e um comportamento político sui generis, que não existia, fortemente baseado no personalismo, impedindo a ascensão de outros líderes e eliminando a discussão interna.
Hugo Chávez, entretanto, faz exatamente o contrário. Baseia-se em Marx, Engels, Lenin, Trotsky e até mesmo em teóricos menos explorados pela esquerda “ortodoxa”, como Kropotkin. Dessa forma, falar em “chavismo” ou é desinformação ou é desonestidade da imprensa corporativista. Conhecendo seu histórico, fico com a segunda opção. Além disso, o processo de discussão interna na Venezuela existe, o PSUV é um partido plural com múltiplas tendências, o Partido Comunista Venezuelano faz várias críticas e é respeitado quando as faz.
 Quando Chávez renegou o “marxismo-leninismo” não renegou Marx, nem Lenin, senão aquela ideologia dogmática que conduziu nos anos de 1960, 1970 a classe trabalhadora ao fracasso, quando não à atitude passiva, pois baseava-se em teses universais que desprezavam a realidade nacional de cada território, no caso do Brasil, durante anos buscou-se uma aliança do proletariado com a burguesia nacional, que mais tarde mostrou-se incapaz de caminhar com as próprias pernas, aliando-se ao imperialismo e levando ao Golpe de 1964.
Populismo “chavista”
            Ao mesmo tempo em que fala em chavismo, a mídia tradicional também acusa Chávez de populismo, desprezando o contexto histórico atual e do populismo.
            Quando o populismo surge, nos anos 1930, surge como uma ideologia burguesa modernizadora, ou seja, tratava-se de um projeto capitalista, que visava desenvolver a economia nacional, a despeito do interesse de antigas oligarquias, tendo como um de seus principais inimigos o fortalecimento do ideal comunista em toda América Latina.
            Assim, com políticas corporativistas, sem qualquer liberdade sindical, os governantes populistas implementaram algumas políticas de segurança social para melhorar em alguns aspectos a qualidade de vida do trabalhador urbano, excluindo o trabalhador rural, para diminuir a influência das lideranças comunistas.
            Hoje, 80 anos depois, na Venezuela não se trata de um processo de modernização do capitalismo. Hugo Chávez está claramente ao lado do proletariado. A reforma agrária, a política salarial, a nacionalização dos bancos caminham em direção socialista. Não é possível, a partir dessa sociedade capitalista uma mudança brusca em direção ao socialismo e depois ao comunismo. É necessário que se lancem as bases para que se possa construir o socialismo, projeto de longo prazo.
            Dessa forma, que se jogue fora o anacronismo da imprensa burguesa e que comece a discussão por uma teoria da transição.

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