FUNDAÇÃO
No dia 25 de Março de 1922, em meio a agitações operárias, movimentos grevistas, de uma urbanização ainda muito jovem, surge, influenciado pela Revolução Russa o Partido Comunista – Secção Brasileira da Internacional Comunista, como resultado da fundação da III Internacional de Lênin. Representando, aproximadamente 73 militantes, 9 delegados, entre eles um espanhol, fundam o partido na cidade de Niterói, um partido que soubesse dar uma resposta à altura da classe trabalhadora, carente de uma organização que a defendesse, já que as lutas eram pulverizadas demais à época.
Ao longo de sua vida, o PCB sofreu duros golpes, internos e externos. Seja pelas frações surgidas, seja pelas direções irresponsáveis que o conduziram em momentos cruciais, seja pelo autoritarismo que imperou no o Brasil, com maior ênfase no Estado Novo de Vargas (1937-1945) e durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985).
DIVISÕES
As divisões nos anos 20 e 30 foram pequenas. Alguns agrupamentos trotskistas, descontentes com os rumos tomados por Stalin na URSS passaram a criticar não só a política externa do Partido como a interna, alegando o Culto à personalidade promovido por Prestes não só de Stalin, como também de si mesmo, surgindo organizações como a Liga Comunista Internacionalista, de Mário Pedrosa e o Grupo Comunista Lenine, que, no entanto não abalaram tanto a estrutura do Partido.
A FUNDAÇÃO DO PC DO B
O cisma sino-soviético dos anos 60 e a “desestalinização” promovida por Kruschev vão levar a direção do Partido a uma crise séria. As denúncias dos crimes de Stalin, do Culto à personalidade, vão levar a divisões internas entre os que defendiam que o Partido permanecesse fiel ao estalinismo e aqueles que viam a necessidade de readaptar-se aos novos tempos.
Alguns motivos de críticas por parte do grupo que fundaria o PCdoB:
O grupo critica, primeiramente, a mudança de nome de Partido Comunista do Brasil, para Partido Comunista Brasileiro, o que indicaria um abandono do internacionalismo proletário. A medida foi tomada visando a tentativa de legalizar o Partido, tentando mostrar-se como brasileiro e independente da URSS;
O abandono da luta revolucionária por via armada, após a tentativa fracassada do Levante de 1935, que teria sua maior expressão no apoio ao “revisionismo” de Kruschev;
O PC do B leva consigo quadros importantes, como Maurício Grabois, Jacob Gorender, Mário Alves e João Amazonas.
ERROS DE AVALIAÇÃO
Os anos 50 e 60 foram marcados – dentro do movimento comunista – como de vários erros de avaliação. A ideia de que houve “feudalismo no Brasil”, com as capitanias hereditárias, visava enfiar goela abaixo uma teoria dogmática, marcada pelo estalinismo, que levarão a adoção de políticas altamente contestáveis, como a ausência de democracia interna, o apoio ao nacional-desenvolvimentismo e a “revolução por etapas”, que levou os partidos comunistas, não só do Brasil, como da Guatemala (Partido del Trabajo Guatemalteco) a apoiar regimes populistas e personalistas de modernização capitalista, afirmando ser possível que o movimento operário se aliasse com uma “burguesia nacional”, que mostrou, com o desenrolar histórico, não existir.
Aqui no Brasil, o mesmo Prestes que outrora comandou o Levante de 1935, contra o autoritarismo de Vargas, irá apoiá-lo em seu projeto nacionalista, burguês, mantendo-se a prática clientelista de antes.
No entanto, o papel do PCB como aliado de Getúlio Vargas ajuda a pressionar, com a campanha “o petróleo é nosso”, para a criação da PETROBRAS, uma empresa estatal, nacional, que detivesse o monopólio do setor petrolífero no país.
Mais adiante, o PCB apoiará o governo de João Goulart, já no contexto da crise do populismo, que fará com que este perca o controle que antes tinha sob as mobilizações populares, que passarão a mirar algumas reformas mais ousadas e até mesmo, em alguns casos, como no de uma famosa foto um “Brasil socialista e sem miséria”. Prestes dizia que “ainda não estávamos no poder, mas já estávamos no governo”, prenunciando uma possível conquista do poder por meios democráticos.
Segundo Dênis Moraes, autor do livro “A esquerda e o Golpe de 64”:
“Denunciávamos o golpe, mas, como éramos mais fortes política e militarmente, bastaria usar a palavra de ordem da supremacia das forças populares que os adversários tremeriam. A conspiração existia, mas não venceria – em síntese, era essa a lógica da esquerda.”
A vacilação do PCB entre a resistência ao golpe permitiu que a ditadura chegasse ao poder sem receber um tiro. No entanto, pouco antes, algumas dissidências já começavam a preparar uma luta armada, prevendo que o golpe se aproximava. Jango dizia que tinha força no Exército para barrar o golpe, mas, isso não se efetivou, segundo Prestes porque “a educação que recebiam (essa fração militar) não era comunista, mas nacional-libertadora. Quando chegou a hora da decisão, vacilaram. E vacilaram porque tinham uma orientação pequeno-burguesa”. Para Gregório Bezerra, o partido subestimou a classe operária.
Apesar de não aderir a luta armada, o PCB, não só perdeu os militantes que foram a ela, como também figuras como David Capistrano, Vladimir Herzog, entre outros tantos que morreram na tortura. O partido considerou que a classe operária não estava preparada para a resistência, não estava organizada para uma luta armada. Verdade ou não, apesar de heroica, a resistência armada foi derrotada, mas necessária num período em que a liberdade de expressão, pensamento e organização não existia.
REDEMOCRATIZAÇÃO
Após sofrer com a dizimação de um terço do seu Comitê Central, no período da redemocratização, o partido sofre para atender a demanda dos novos tempos. Com um sindicalismo de resultados, ainda o mesmo da época de Getúlio, perde espaço para o “novo sindicalismo”, que seria um dos propulsores da fundação do Partido dos Trabalhadores – o partido defenderá a ‘teoria da conspiração’ de que o PT foi invenção de Golbery Couto e Silva para anular a influência do Partidão no meio sindical e político no campo da esquerda.
O Partidão tomou medidas contestáveis, como da capitulação diante das “Diretas Já!”, aderindo à candidatura de Tancredo Neves e apoiando o PMDB em diversos estados, o que levará os comunistas a votarem em figurões como Miro Teixeira, filho do chaguismo, Fernando Henrique Cardoso dentre outros.
As eleições de 1989 lançaram Roberto Freire como candidato à presidência, diante de nomes como Brizola (PDT) e Lula (PT), o partido, tem uma ínfima votação, mas apoiará Lula no segundo turno contra Collor.
A queda da URSS cai como um tijolo sobre a cabeça do Partido, que já vinha empregando táticas, resoluções um tanto quanto distantes da realidade. Uma direção oportunista, que julgou que o termo “comunista” não caía bem para um partido que queria crescer eleitoralmente, decidiu de forma autoritária e golpista dissolver o PCB e criar o PPS (Partido Popular Socialista), seguindo o modelo do México. O Congresso foi convocado às pressas, e inclusive quem não era militante poderia decidir sobre os rumos do partido. O discurso de Ivan Pinheiro, defendendo os princípios do partido se torna um marco dentro do resgate do partido, que, travaria uma luta pela “reconstrução revolucionária”.
OS "90 ANOS" DO PC DO B
De forma bastante oportunista o PC do B em seu último programa de televisão, comemorou “90 anos” de existência.
No melhor estilo estalinista, falsificou não só a própria história como a do Brasil. Mostrando imagens de Prestes, que nunca pertenceu ao PCdoB e que, quando da cisão de 1962 ficou ao lado do PCB, o partido afirmava que estava resgatando os princípios do partido quando rompeu com a direção do PCB. Como se não fosse o bastante, em um cartaz de 2009 colocava Getúlio Vargas como um dos grandes “socialistas” brasileiros.
A Carta de Março de 1958, que culminaria na fundação do PCdoB em 1962, foi, na verdade, produto de um grupo que se postou contra Kruschev na renúncia ao estalinismo, sendo incapaz de romper com um método autoritário, contrário aos princípios libertários do marxismo.
Até pouco tempo atrás o PCdoB comemorava sua data de fundação como sendo 18 de fevereiro de 1962, por que então comemora, na atualidade como sendo 22 de março de 1922? Mais do que vergonha do próprio passado, o PCdoB tem de ter vergonha de seus posicionamentos atuais, que levam figuras como Aldo Rebelo a se colocarem do lado de Kátia Teixeira – ruralista do PSD-TO – na luta por um Código Florestal pró-capitalista, no apoio que pretendeu dar a Kassab – também do PSD-SP - , esquecendo, assim dos próprios princípios que deveriam honrar.
HOJE
O PCB de hoje, já calejado pelos erros do passado, faz uma análise madura – em sua maioria – sobre os erros do passado, sobre o presente com perspectivas para o futuro. Abandonou a visão de alguns estalinistas, da “revolução por etapas”. O PCB tem uma produção intelectual privilegiada, com nomes como José Paulo Netto, Antônio Carlos Mazzeo e o próprio Ivan Pinheiro.
Apesar de algumas posições serem – ao meu ver – bastante equivocadas, como a de um papel “imperialista do Brasil na América Latina” e o apoio, sim apoio, a regimes como o da Síria, da Líbia (até a queda de Kadafi) , a omissão em relação à Coreia do Norte, que não é, nem nunca foi socialista, desenvolvendo um modelo muito mais próximo de uma religião do que de uma sociedade socialista, marxista-leninista, são um entrave para que o PCB possa renunciar à herança da Guerra Fria, que, de forma maniqueísta, levou os comunistas a tomarem posições absurdas e contrárias ao próprio comunismo, como o apoio a líderes populistas, na América Latina e na Ásia.
Acredito no esforço atual do PCB para criar um partido que saiba dar uma resposta a altura da crise do capital para a classe operária.
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